O avanço que a agricultura brasileira experimentou nos últimos anos – que elevou o País ao posto de segundo maior exportador mundial – está prestes a entrar em uma nova fase. Essa chamada “Segunda Revolução Verde” tem um fator “chave” para o sucesso. Não são as máquinas, os implementos, os insumos ou a tecnologia – sem o agricultor, todo o resto perde o sentido.
Neste domingo (28.07.13) é celebrado mais um Dia do Agricultor, que terá muitos motivos para comemorar. Será ele o responsável pelo crescimento produtivo de 40% que o agronegócio brasileiro necessita até 2050 para tornar-se o principal fornecedor de alimentos que atendam 9 bilhões de pessoas habitando o mundo no meio do século.
“Temos área disponível, possibilidade de incorporação de áreas de pastagem e eficiente tecnologia tropical, tudo levando ao sucesso do agronegócio que sustenta a balança comercial brasileira e nos colocará na posição de celeiro do mundo. Mas é preciso vencer os gargalos da infraestrutura e logística, e superar os obstáculos da burocracia. Não adianta só desenvolver a tecnologia. Temos que levá-la ao campo, temos que ensinar, treinar, equipar e financiar”, diz Eduardo Daher (foto), diretor da Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal).
O dirigente conta que a entidade está empenhada em “investir ainda mais em treinamento e educação de quem atua no campo, assim como em divulgar a história do agronegócio no Brasil para o meio urbano por meio de ações na mídia. Estão previstas várias iniciativas no segundo semestre deste ano para levar ao campo boas práticas agrícolas e mostrar a importância do uso de tecnologias que permitem produzir mais e melhor”.
Daher conta que a primeira Revolução Verde aconteceu na década de 70, quando o Brasil ainda era dependente do mercado internacional – inclusive importador de alimentos. Passados 40 anos, só não exportamos mais comida que os Estados Unidos.
“A Revolução Verde aconteceu pela necessidade de o país se tornar independente e deu certo porque, além de incluir a ocupação e abertura do Cerrado, veio embasada em tecnologia. O Brasil passou a adotar fertilizantes, sementes certificadas, defensivos agrícolas, máquinas e equipamentos, que garantiram maior produtividade”, comenta ele.
“Precisamos aumentar a produção de alimentos, de forma sustentável, com o uso de tecnologia adequada e de produtos cada vez mais eficientes, como defensivos que permitem menor quantidade de aplicação. Esse novo salto exige adoção de tecnologias inovadoras, com respeito à saúde humana e ao meio ambiente. O plantio direto, por exemplo, já é um sucesso e deve ser ampliado, assim como novas tecnologias, como a integração lavoura/pecuária e até lavoura/pecuária/silvicultura, aumentando a área cultivada sem derrubar uma árvore e criando um ciclo em que se produz na terra o ano todo”, sustenta o dirigente.
Nesse contexto da necessidade de “fazer mais com menos”, surge uma questão que intriga a economia (e política) brasileira: existe como produzir em grande escala e ao mesmo tempo contemplar a agricultura familiar?
“A agricultura brasileira é muito mais complexa. Deve ser analisada por meio de vários ângulos, como o tamanho da propriedade, a mão-de-obra utilizada, a tecnologia empregada, a organização da comercialização dos produtos e da capacidade de obtenção de lucro. Ora, se o agronegócio é a soma de toda uma cadeia produtiva agropecuária composta por agricultores, indústrias de insumos e de maquinários, agroindústrias, empresas de comercialização e consumidores, não há como negar que a agricultura familiar também participa do agronegócio.” afirmam Fernando Ferro (Deputado Federal pelo PT/PE) e Maria Thereza Pedroso (Agrônoma e Mestre em Desenvolvimento Sustentável) em artigo publicado no site do ANFFA (Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários).
“Há o grande agricultor que participa do mercado formal e, inserido no sistema de arrecadação tributária, garante direitos trabalhistas ao seu assalariado. Há o latifúndio improdutivo, cujo gado é alugado para justificar a sua não desapropriação para fins de reforma agrária, e o canavial com trabalhadores em situação similar à escravidão ou com condições de trabalho dos primórdios da revolução industrial. Tem-se também o agricultor familiar integrado que, por exemplo, produz exclusivamente aves e tem a sua comercialização garantida para agroindústria de frango. Não se pode deixar de considerar as inúmeras propriedades familiares com alto grau de produtividade de diversos alimentos, cuja comercialização aquece intensamente a economia local. E ainda há comunidades inteiras de agricultores familiares, cuja produção se destina basicamente ao auto-consumo e estão abaixo do nível de pobreza”, comentam.
“Está na hora de acabar com esse debate maniqueísta e passar a dar ênfase na discussão mais clara e objetiva de como se intensificar a fiscalização ambiental; promover a pesquisa agropecuária em pequena escala produtiva; desenvolver tecnologias de menor impacto ambiental; implementar os zoneamentos agroecológicos; universalizar a assistência técnica pública com a perspectiva de promover os princípios da conservação dos recursos naturais; difundir os sistemas de certificação por meio de Selos Verdes que garantam ao consumidor a sustentabilidade sócio-econômica e ambiental da cadeia produtiva; e implementar o sistema de rastreabilidade animal que proporciona maior controle do governo em relação à atividade pecuária em termos tributários, sanitários e ambientais”, conclui o artigo.