27
abr
2020
Coronavírus acelera criação de feiras online no Paraná

A pandemia de coronavírus, que obriga o mundo todo a promover o distanciamento social como medida de prevenção, provocou uma série de mudanças na rotina das pessoas, como no comportamento de consumo. As lojas online têm ganhado cada vez mais espaço em praticamente todos os setores, inclusive na compra de alimentos. Se antes a venda de hortifrútis e outros gêneros alimentícios diretamente do produtor era feita por telefone ou whatsapp, agora se espalham pelo Paraná diversas plataformas de compra e venda pela internet. 

Um desses exemplos está em Agudos do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Uma mobilização para a criação de uma plataforma, chamada “Banco de Alimentos”, já estava em andamento. Com a situação vivida como reflexo da nova doença, a prefeitura resolveu acelerar a entrada do projeto no ar. “Na primeira semana, conseguimos 15 pedidos e um faturamento de R$ 800. Na terceira semana já foram 22 pedidos e quase R$ 1,6 mil envolvendo produtos de 33 famílias”, compartilha Lorena Manuele Teixeira da Luz, secretária de administração e finanças do município. 

A feira on-line envolveu todo um trabalho de preparação puxado pelo poder público, que começou ainda em 2018. A prefeitura do município contratou técnicos, agrônomos e veterinários para identificar as propriedades existentes e os produtos cultivados. “Nosso projeto tem três propósitos principais: olhar o agricultor como empreendedor, fazer essa união entre quem produz e quem compra e unir o campo e a cidade. Com isso, conseguimos promover o desenvolvimento local do micro para o macro”, avalia Lorena. 

Cadeia unida 

A feira on-line deve dar um fôlego a mais para ferramentas como whatsapp e outras redes sociais, que já vinham sendo utilizadas para a venda de hortaliças por produtores rurais no município. A produtora Lucimeri Screpecz Lisboa viu nas ferramentas digitais a salvação para não perder mercadoria. Ela e a família (o marido e dois filhos) mudaram recentemente para Agudos do Sul, e fizeram um grande investimento na construção de estufas hidropônicas. Eles estavam prestes a fazer a primeira colheita quando estourou a pandemia de coronavírus, o que cancelou os contratos de compra pré-estabelecidos. 

“Nós tínhamos acertado a venda da nossa produção com um cliente que distribui no ramo de lanchonetes e restaurantes, quando veio a notícia de que ele não poderia ficar com nossos produtos”, compartilha Lucimeri. “Aí o pessoal da secretaria, todo mundo, fez um mutirão para ajudar a gente e em dois, três dias vendemos toda a alface que tínhamos ali. Tivemos um grande apoio, o pessoal da secretaria de agricultura, obras e com engenheiros agrônomos disponibilizados pela prefeitura para nos dar consultoria, revela a produtora.

Mobilização estadual 

Assim como em Agudos do Sul, vários outros municípios têm apostado no Estado em lançar suas feiras on-line. Ponta Grossa, nos Campos Gerais, lançou recentemente a “Feira Fácil”. Guarapuava, por sua vez, está com a feira “Compre do Produtor” no ar. Exemplos assim são inúmeros pelo Estado. E quem tem acompanhado esse movimento e dado suporte para os produtores é o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IAPAR-EMATER (IDR-Paraná). 

Segundo Julian Mattos, da área de Organização Rural e Mercados da instituição, o IDR-Paraná orienta o produtor rural de hortifrutigranjeiros para que se organizem, especialmente, por meio de pequenas cooperativas, para que possam acessar a venda on-line. “Espera-se que se tenha alguma organização da produção e dos produtores, bem como é necessário ter alguém que abasteça essas plataformas digitais e faça a parte operacional. Os produtores familiares, em geral, ainda estão em fase de adaptação com o universo digital. Esse é um caminho muito importante para o desenvolvimento da cadeira produtiva de hortifrútis, em geral”, reflete Julian. 

Por meio do Projeto Mais Gestão (parceria do IDR-Paraná com a ANATER – Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural), é feito um diagnóstico de organizações rurais, que aponta o nível de maturidade de cada uma. Com base nisso é proposto um projeto de gestão, de modo a encontrar soluções estratégicas, que contribuam com os objetivos dessas organizações, incluindo a gestão da comercialização. 

“Os extensionistas do IDR-Paraná desenvolvem um trabalho de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) com organizações rurais, buscando prepará-las para o mercado virtual, com técnicas de gestão, diferenciação de produtos, estudos de mercado e planos de logística na área de abrangência dessas organizações”, avalia Julian. “Na conjuntura atual, as vendas on-line têm sido uma orientação consistente e, por limitações logísticas, é muito importante que o agricultor familiar que deseja entrar nesse mercado, procure estar organizado, por exemplo, em cooperativas”, completa a técnica do IDR-Paraná.

Organização: chave para o sucesso 

A técnica do SENAR-PR Vanessa Reinhart lembra que muitos produtores já utilizavam mídias sociais antes de haver essa movimentação e organização em lojas virtuais. “Porém, era para atender uma demanda mais localizada. Agora, uma porcentagem grande da população está optando por esse tipo de serviço, o que dificulta a organização dos produtores por whatsapp, por exemplo”, avalia. 

Para Vanessa, com o crescimento dos negócios sem uma ferramenta mais prática, eles podem perder o controle de pedidos e volume de venda. “Além disso, produtores individuais dificilmente vão ter disponíveis o mix de produtos que o consumidor procura. Assim, com a organização de vários produtores em plataformas fica mais fácil a organização dos pedidos e a garantia que será fornecido um mix de produtos atrativo para o consumidor”, recomenda. 

Whats costuma ser o ponto de partida

Mesmo os produtores que ainda não fazem parte de uma cooperativa ou rede de mobilização também podem usar individualmente das redes sociais para suprir as demandas dos consumidores. Em Itaúna do Sul, no Noroeste do Paraná, Juliana Spinardi Silva trabalha junto com a família na produção de hortaliças. “Em 2015, montamos um grupo e os pedidos eram apenas para consumidor final. Depois que conseguimos cliente fixo, diminuiu um pouco por falta de tempo, mas mesmo assim os mercados fazem pedidos pelo whatsapp até hoje”, compartilha Juliana. 

E quem tinha nas redes sociais um complemento de renda, com a pandemia passou a apostar todas as fichas nessa estratégia de venda. Maria Célia Kmiecik produz orgânicos em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, há 22 anos. De repente, com o coronavírus, sua maior fonte de renda, a feira, fechou as portas. “Eu já fazia algumas entregas por whatsapp, mas agora com a pandemia, há cinco semanas sem poder montar a feira, essa tem sido a única forma de venda”, revela. “Eu passo a lista com os produtos, a pessoa escolhe, eu colho, separo e levo, a maior parte nas próprias casas dos clientes”, conta. 

Fonte: Agrolink

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