14
fev
2012
Cooperativas implantam moinhos para garantir mercado ao trigo
Coopavel vai inaugurar planta em julho e cooperativa Batavo confirma projeto para este ano. Cooperados só estão conseguindo vender a produção de 2010 com intervenção do governo
José Rocher, enviado especial
Um antídoto para o desânimo que contamina os produtores de trigo do Paraná vem sendo formulado pelas cooperativas. Dois novos moinhos vão entrar em operação. Um em Cascavel, em julho, e outro nos Campos Gerais (possivelmente em Ponta Grossa), em 2013. As duas plantas poderão processar, juntas, 240 mil toneladas de grão – 9,5% da produção estadual ou 4% da nacional.
Na safra passada, o Paraná limitou o cultivo a 1 milhão de hectares (área 10% menor que a de 2010), enquanto o Rio Grande do Sul, onde os produtores não têm opção de plantar a segunda safra de milho, seguiu caminho inverso, plantando 868 mil hectares (+9,4%), conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo no Paraná, faltam compradores. A comercialização só voltou a andar no último mês com a intervenção dos leilões do governo.
“Pela primeira vez, vou parar com o trigo [em 2012]”, afirma Emerson Penachiotti, triticultor de Floresta (Centro-Oeste), que cultivava de 40 a 60 hectares. Além de ter enfrentado perdas de mais de 30%, ele ainda não conseguiu vender a produção do ano passado. Em sua avaliação, além de os preços entre R$ 23 e R$ 28 serem desanimadores, não vale a pena produzir porque o mercado regional é muito fraco.
A Coopavel confirma para julho a inauguração de um moinho de R$ 43 milhões que vai industrializar 120 mil toneladas de trigo por ano. A meta é facilitar o escoamento da produção e também estimular o plantio, que caiu de 60 mil para 35 mil hectares em quatro anos na área de abrangência da cooperativa. “Devemos ao menos voltar a produzir 130 mil toneladas [o dobro do volume atual], até para alimentar o moinho”, afirma o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli.
A Batavo articula com a Castrolanda e a Capal a construção de um moinho que receba a produção dos Campos Gerais. A indústria deverá processar 120 mil toneladas, ante uma colheita que chega a 130 mil na região. Os equipamentos começam a ser comprados em julho. O investimento deve ser de R$ 30 milhões, incluindo um armazém de 50 mil toneladas, que garantiria estoques na entressafra. Sem essa estrutura de armazenagem, a região continuaria tendo de vender a maior parte da safra na colheita e de importar grandes volumes no verão para viabilizar o negócio.
A ideia nos Campos Gerais também é resolver a falta de liquidez enfrentada todo ano, afirma Antonio Carlos Campos, gerente-geral da Batavo. Não há promessa de que o moinho vá pagar mais pelo trigo dos cooperados. “Não esperamos preço acima de mercado. Mas se o moinho der lucro, seremos indiretamente beneficiados”, avalia o agricultor Richard Dijkstra, cooperado da Batavo.
A Coamo – maior cooperativa de produção de grãos da América Latina, com sede em Campo Mourão (Centro-Oeste do estado) – avalia que o trigo merece espaço para que os agricultores não se exponham cada vez mais unicamente aos riscos do milho de inverno. O presidente da cooperativa, Aroldo Gallassini, acredita que o trigo, com demanda interna duas vezes maior que a produção, pode ser mais valorizado a medida em que o país for resolvendo seus gargalos logísticos.
O desinteresse se expressa inclusive em regiões tradicionais no cultivo do trigo, como a área de atuação da cooperativa Agrária, que tem sede em Entre Rios, em Guarapuava (Centro do estado) e opera um moinho há meio século. A área de trigo chegou a 31 mil hectares em 2008 e, desde então, vem caindo ano a ano. A previsão é que sejam plantados 24 mil hectares em 2012, 23% a menos. “Se liberássemos a área de cevada (atualmente com teto em 29 mil hectares), a do trigo ficaria ainda menor”, observa o agrônomo Leandro Bren. O moinho da Agrária vem processando de 128 mil a 148 mil toneladas de trigo ao ano.
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José Rocher, enviado especial
Um antídoto para o desânimo que contamina os produtores de trigo do Paraná vem sendo formulado pelas cooperativas. Dois novos moinhos vão entrar em operação. Um em Cascavel, em julho, e outro nos Campos Gerais (possivelmente em Ponta Grossa), em 2013. As duas plantas poderão processar, juntas, 240 mil toneladas de grão – 9,5% da produção estadual ou 4% da nacional.
Na safra passada, o Paraná limitou o cultivo a 1 milhão de hectares (área 10% menor que a de 2010), enquanto o Rio Grande do Sul, onde os produtores não têm opção de plantar a segunda safra de milho, seguiu caminho inverso, plantando 868 mil hectares (+9,4%), conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo no Paraná, faltam compradores. A comercialização só voltou a andar no último mês com a intervenção dos leilões do governo.
“Pela primeira vez, vou parar com o trigo [em 2012]”, afirma Emerson Penachiotti, triticultor de Floresta (Centro-Oeste), que cultivava de 40 a 60 hectares. Além de ter enfrentado perdas de mais de 30%, ele ainda não conseguiu vender a produção do ano passado. Em sua avaliação, além de os preços entre R$ 23 e R$ 28 serem desanimadores, não vale a pena produzir porque o mercado regional é muito fraco.
A Coopavel confirma para julho a inauguração de um moinho de R$ 43 milhões que vai industrializar 120 mil toneladas de trigo por ano. A meta é facilitar o escoamento da produção e também estimular o plantio, que caiu de 60 mil para 35 mil hectares em quatro anos na área de abrangência da cooperativa. “Devemos ao menos voltar a produzir 130 mil toneladas [o dobro do volume atual], até para alimentar o moinho”, afirma o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli.
A Batavo articula com a Castrolanda e a Capal a construção de um moinho que receba a produção dos Campos Gerais. A indústria deverá processar 120 mil toneladas, ante uma colheita que chega a 130 mil na região. Os equipamentos começam a ser comprados em julho. O investimento deve ser de R$ 30 milhões, incluindo um armazém de 50 mil toneladas, que garantiria estoques na entressafra. Sem essa estrutura de armazenagem, a região continuaria tendo de vender a maior parte da safra na colheita e de importar grandes volumes no verão para viabilizar o negócio.
A ideia nos Campos Gerais também é resolver a falta de liquidez enfrentada todo ano, afirma Antonio Carlos Campos, gerente-geral da Batavo. Não há promessa de que o moinho vá pagar mais pelo trigo dos cooperados. “Não esperamos preço acima de mercado. Mas se o moinho der lucro, seremos indiretamente beneficiados”, avalia o agricultor Richard Dijkstra, cooperado da Batavo.
A Coamo – maior cooperativa de produção de grãos da América Latina, com sede em Campo Mourão (Centro-Oeste do estado) – avalia que o trigo merece espaço para que os agricultores não se exponham cada vez mais unicamente aos riscos do milho de inverno. O presidente da cooperativa, Aroldo Gallassini, acredita que o trigo, com demanda interna duas vezes maior que a produção, pode ser mais valorizado a medida em que o país for resolvendo seus gargalos logísticos.
O desinteresse se expressa inclusive em regiões tradicionais no cultivo do trigo, como a área de atuação da cooperativa Agrária, que tem sede em Entre Rios, em Guarapuava (Centro do estado) e opera um moinho há meio século. A área de trigo chegou a 31 mil hectares em 2008 e, desde então, vem caindo ano a ano. A previsão é que sejam plantados 24 mil hectares em 2012, 23% a menos. “Se liberássemos a área de cevada (atualmente com teto em 29 mil hectares), a do trigo ficaria ainda menor”, observa o agrônomo Leandro Bren. O moinho da Agrária vem processando de 128 mil a 148 mil toneladas de trigo ao ano.