11
jul
2011
Como ocorrem os danos por geada no trigo

 

No último mês, os produtores foram surpreendidos pela incidência de geada no Sul do país, causando prejuízos nas lavouras de grãos. Nessa época do ano, desde o extremo sul do RS, passando por SC, PR, SP, e nas partes mais altas do MS até MG, o fenômeno geada é uma marca característica do inverno.

Na agricultura os prejuízos associados com as geadas dependem da intensidade dos eventos, do tipo de cultivo e do momento do ciclo de desenvolvimento das lavouras. Para reduzir dos riscos com geada, especialmente no cultivo de trigo, o produtor precisa saber como o fenômeno acontece e quais as estratégias para conviver com o problema.

As adversidades do clima são riscos inerentes à triticultura, causando prejuízos que nem sempre encontram fontes de resistência no melhoramento genético das plantas. O frio é fundamental para o bom desenvolvimento dos cereais de inverno, mas as baixas temperaturas podem vir acompanhadas de geadas fortes que podem causar danos às plantas.

A geada, em geral, acontece quando a temperatura cai para a faixa negativa na escala dos termômetros e pode ser observada principalmente nas baixadas do campo, onde o ar frio se concentra, ou ainda nas encostas voltadas para o sul. Os prejuízos em trigo podem ser comprovados cerca de uma semana após a ocorrência da geada, quando a planta realmente mostra os estragos de queima nas folhas ou nas espigas.

“Os danos maiores com geada acontecem no espigamento e na floração do trigo, quando, além de falhas na granação pode ocorrer a morte total da espiga. Durante a fase inicial do desenvolvimento do trigo, mesmo sob geada intensa, pode até ocorrer a morte de algumas plantas, mas o rendimento da lavoura não fica comprometido”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo, João Leonardo Pires.

Apesar da geada ser essencialmente um fenômeno físico, os danos nas plantas pela formação de gelo podem contar com a participação efetiva de alguns microrganismos. No trigo, os principais agentes biológicos associados às geadas são as chamadas bactérias nucleadoras de gelo.

Tais bactérias naturalmente habitam a superfície das folhas em regiões de clima temperado, geralmente sem parasitar as plantas, mas podem potencializar a ação prejudicial das geadas. “Ocorre que, embora o gelo derreta à 0 0C, a água líquida e pura pode atingir temperaturas de até –40 0C sem se solidificar, assim as bactérias podem servir de núcleo de orientação das moléculas de água formando cristais de gelo sob temperaturas não tão baixas”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, João Leodato Nunes Maciel, orientando que os sinais deixados pelo efeito da geada sobre as bactérias são manchas claras e translúcidas ao longo das folhas.

Segundo o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, as regiões mais propensas a geadas intensas estão localizadas no sul do País, incluindo as partes mais elevadas dos estados do RS, SC e PR. “Nas regiões mais ao sul, obviamente, o clima frio favorece a ocorrência de geadas no inverno, mas o risco de dano por geada em trigo acaba sendo maior nas regiões mais quentes, onde as plantas estão menos aclimatadas e o plantio é realizado mais cedo, coincidindo o risco de geadas com a fase do espigamento no trigo”, diz Cunha.

Os danos no trigo, com geadas trazidas na queda brusca de temperatura, foram registrados no Paraná, em São Paulo (Centro-sul e Oeste), Mato Grosso do Sul e até no Paraguai. “As lavouras nestas regiões, com certeza, sofreram com a geada, mas ainda não sabemos ao certo o quanto as áreas de trigo foram prejudicadas”, afirma o meteorologista do INMET, Luiz Renato Lazinski.

No Paraná, o Deral divulgou perdas de até 9% no trigo em função das geadas do final de junho. No Rio Grande do Sul, ainda não se pode falar em perdas por geada, já que a temperatura vem caindo há mais de 20 dias, deixando o trigo aclimatado para suportar as geadas intensas que chegaram em julho.

De qualquer forma, as perdas por geada no trigo são passíveis de cobertura pelo seguro agrícola e, certamente, as lavouras que seguiram as indicações do zoneamento agrícola, com escalonamento da semeadura e utilizando cultivares de diferentes ciclos, estão enfrentando menos problemas com essas adversidades climáticas.

Fonte: Embrapa / Agrolink

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