O clima foi o grande vilão da safra 2015/2016 na produção de milho, soja, trigo e arroz, afirmou nesta quarta-feira (26) o pesquisador Mauro Osaki, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo, durante o 2º Seminário Nacional do Projeto Campo Futuro, na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Osaki apresentou os resultados levantados durante os painéis de cereais, fibras e oleaginosas realizados em 30 municípios de 12 estados, além do estudo Agri Benchmark Grãos, que comparou os custos de produção do Brasil com países como Estados Unidos e Argentina. De acordo com o pesquisador, o fenômeno El Niño foi o principal causador das perdas nas lavouras brasileiras, com secas na região do Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, e excesso de chuvas na região Sul do País.
“Os produtores estão enfrentando um ano preocupante, com perdas significativas na produção. Com isso, estão renegociando com fornecedores devido à falta de recursos. Na tríade MST (milho, soja e trigo), a maioria dos estados está tendo prejuízo nesta safra. Os preços só estão atrativos para quem não está no setor.” Para o pesquisador, diante desse cenário, são necessárias ações que ajudem o produtor afetado pelas intempéries climáticas. “A perda de 60, 70% da safra por quebra e falta de água já coloca um alerta direto para nós da necessidade de um projeto que traga conforto e sustentabilidade aos produtores dessas regiões.”
Ao apresentar o estudo Agri Benchmark, Mauro Osaki questionou se o Brasil é competitivo e destacou que aqui os investimentos com insumos e defensivos agrícolas são maiores por causa de pragas como a Helicoverpa Armigera e a Mosca Branca. “É impossível hoje ter produção de alimentos sem fazer proteção de plantas, principalmente por se tratar de um país tropical. É um mal necessário.” O pesquisador apontou ainda os custos para manter a estrutura de uma propriedade rural no Brasil e fez um comparativo com outros países. Segundo ele, nos Estados Unidos as propriedades são geridas principalmente pela mão de obra familiar. “Nossa mão de obra já foi barata. Hoje ainda nos damos ao luxo de ter uma estrutura gorda com gerente de fazenda, etc, mas isso precisa ser revisto porque nossa mão-de-obra é pouco eficiente.”
Questionado sobre como o produtor brasileiro pode enfrentar as mudanças climáticas sem grandes perdas, Mauro Osaki afirmou que a safra 2015/2016 fica como aprendizado. “Precisamos proteger a renda do produtor rural. Enquanto essa ferramenta não vem, temos que trabalhar fazendo a lição de casa. Dentro do nosso processo produtivo há setores em que podemos ganhar produtividade não apenas em termos de sacas de soja, mas aumentando a produtividade do trabalhador rural, a eficiência da máquina e reduzindo excessos para conseguir maximizar a produção e ganhar por metro quadrado. Infelizmente precisamos ganhar eficiência por conta da valorização da terra e da mão de obra. Nós ganhamos no campo, mas ainda não conseguimos mexer nesses fatores. É um exercício que temos que começar a fazer.”