27
out
2009
Clima e supersafra vão definir preço da soja

Chuva e antecipação da temporada de neve nos Estados Unidos atrasam a colheita; na América do Sul, chuvas retardam o plantio. Mas, se o clima ajudar, virá um segundo problema: uma supersafra mundial de 245 milhões de toneladas, que poderá derrubar os preços

A soja sempre ganha um tradicional componente de incerteza no segundo semestre: o chamado "mercado do clima". Primeiro, o setor fica atento a eventuais problemas na safra dos Estados Unidos. Em seguida, a preocupação se estende ao plantio na América do Sul.
Esse "mercado de clima" está bastante acentuado neste ano. A safra dos EUA, o principal produtor, arrasta-se e será uma das mais longas em 30 anos. Os empecilhos vão desde o excesso de chuva à antecipação da temporada de neve. Já na América dos Sul, o plantio não evolui devido ao excesso de chuva.

Mas, mesmo após resolvida a questão do plantio, outro problema preocupa os produtores. A região poderia sofrer os efeitos não de um "El Nino" clássico, que traria chuvas para a lavoura, mas os de um "El Nino Modoki", que traria seca.

"Se esse novo modelo climático se confirmar, será uma péssima notícia para gaúchos e para paranaenses", diz Fernando Muraro, da Agência Rural.

Ele lembra que essa região já sofreu forte quebra de produção em 2008/9, devido à seca.

Supersafra

Mas não é só o clima que preocupa os produtores, diz Muraro. A área mundial semeada com soja somará 101 milhões de hectares, promovendo uma safra recorde. Se as condições climáticas forem boas, o volume colhido poderá atingir 245 milhões de toneladas.

Aí a preocupação passa a ser com os preços, já que os estoques mundiais seriam repostos e subiriam para 55,7 milhões de toneladas, o segundo maior volume da história.

A febre pela soja se deu porque os preços do produto estão bem mais favoráveis aos produtores do que os do milho, principal competidor da oleaginosa.

Os dados mais recentes do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) mostram que, após os EUA terem semeado 31 milhões de hectares, será a vez de Brasil (22,5 milhões) e Argentina (19 milhões) aumentarem substancialmente a área.

Com tanta área semeada, os dados de safra tomam contornos de supersafra. Os EUA devem produzir 88,5 milhões de toneladas, Já o Brasil deverá atingir 64,7 milhões de toneladas, segundo a consultoria Céleres. No caso argentino, a supersafra iria para 53 milhões de toneladas, apurou a AgRural.
Uma das esperanças dos produtores para a sustentação dos preços é o apetite chinês. Neste mês, as importações chinesas deverão somar 2,34 milhões de toneladas, o mesmo volume previsto para novembro, segundo a Reuters.

Evolução

Os números da AgRural, da Céleres e da Safras & Mercado indicam que um quinto da safra brasileira já foi semeado. Mato Grosso segue na dianteira, com 37%, segundo do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária). No ano passado, estava em 30%.

Em algumas áreas do Estado, como Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sapezal, o plantio já atinge 70%, segundo o instituto.


Fonte: Folha de São Paulo - Mauro Zafalon
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