13
jul
2011
Clima deve afetar ainda mais os preços do trigo no Brasil

 

Daniel Popov

Com isso, o tradicional pãozinho pode ficar até 5% mais caro. A saca de 50 quilos de farinha, que no ano passado era cotada a R$ 49, deve chegar a R$ 60 

São Paulo - O pãozinho brasileiro deve mesmo ficar mais caro nos próximos meses, dado os problemas climáticos que afetaram a principal região produtora de trigo do País, o Paraná. Além disso, as geadas que atingiram o sul do Brasil também devem influenciar as colheitas de grandes fornecedores do produto, como a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Quem perde é o consumidor que poderá desembolsar até 5% mais na compra do pãozinho de seu café da manhã.

A qualidade do trigo é a principal exigência dos moinhos para a produção da farinha que dá origem ao pão. O Brasil produz uma grande quantidade de trigo brando, reconhecido pela qualidade menor e que é usado para a confecção de biscoitos e ração animal. O conhecido trigo pão, de alta qualidade, é usado para fabricar farinha e para pães, e não possui grande representatividade na produção total do País.

Os moinhos brasileiros, que há muito tempo importam trigo de qualidade de outros países, como a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e os Estados Unidos, e pagam mais caro por isso, já contabilizam valores até 25% mais altos na compra deste grão em 2011. E a situação ainda deve se agravar caso o clima não colabore. "O mercado brasileiro está cada vez mais exigente em relação à qualidade do trigo. Nós notamos uma melhora na qualidade do Brasil, mas estamos longe do ideal, e ainda temos que comprar de outros países. O problema é que as geadas que afetaram o Paraná também atingiram o Paraguai e a Argentina", comentou o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Industria do Trigo (Abitrigo), Luiz Martins.

Nesta nova safra da Argentina, os preços da tonelada de trigo já estão 25% mais altos que no ano passado. Com isso, o presidente do maior moinho da América Latina, o Moinho Pacífico de São Paulo, Lawrence Pih acredita que esse reflexo será visto no preço da farinha, que no ano passado estava cotada a R$ 49 a saca de 50 quilos e este ano já está em R$ 56. A expectativa é que em outubro, caso se confirme a quebra de safra no Paraná, os valores possam ultrapassar a casa dos R$ 60 a saca. "Temos informações que a mesma geada que atingiu o Paraná, também afetou de forma mais severa o Paraguai, que é um importante fornecedor do Brasil no Mercosul. Então, o clima afetou o Brasil, o Paraguai e a Argentina. Trabalhávamos com uma quantidade para suprir a nossa demanda e temos que rever esses estudos, evidente que é cedo para avaliarmos, pois ainda vamos colher em todos esses países", afirmou o executivo.

O preço da tonelada de trigo no Brasil também está 20% mais cara na comparação com o ano passado. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em abril deste ano a tonelada do produto atingiu no Paraná a média de R$ 499, contra os R$ 416 do ano passado. "O mercado está meio travado, ele parece que está alto, mas essa valorização veio da bolsa de Chicago no fim do ano passado. Isso acabou refletindo nos preços no Brasil. Então, em uma comparação com 2010, esse ano temos preços mais altos. E os problemas climáticos podem piorar ainda mais essa situação", afirmou a analista de mercado da entidade, Renata Maggian.

Já o presidente do Moinho Santa Clara afirmou que essa situação poderia ser mais amena caso o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil não tivesse adiado para o ano que vem a entrada em vigor das novas normas de qualidade para o trigo brasileiro. "Essas novas normas infelizmente foram adiadas, e quem pagará o preço é o consumidor brasileiro. Os moinhos terão que pagar mais para comprar trigo de qualidade e isso será repassado ao consumidor", contou Christian Saigh, presidente do Moinho Santa Clara.

Por fim, Lawrence Pih acredita que o tradicional pãozinho francês ficará até 5% mais caro esse ano. "Provavelmente o pãozinho ficará mais caro. Acho que os preços podem subir até 5%, este ano", finalizou ele.


Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria

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