Após um período conturbado de plantio, a irregularidade das chuvas do Centro-Oeste começa a despertar temores sobre a produtividade da safra 2015/16 de soja, em meio ao fenômeno climático El Niño mais forte da história.
O El Niño contribuiu para um atraso na chegada das chuvas em Estados como Mato Grosso e Goiás, impedindo um plantio acelerado no início oficial da temporada. Quando as precipitações começaram com mais intensidade, no fim de outubro, foram marcadas por intervalos desiguais e uma má distribuição geográfica.
"Dentro da minha propriedade, tem áreas onde não chove há 15 dias e outras onde choveu três vezes nesse período. Tem muitas 'manchas'. É absurdo o quanto a chuva está desparelha", relatou o agricultor Antônio Galvan, de Sinop (MT), onde é presidente do Sindicato Rural.
Segundo ele, já é certo que a região no entorno de Sinop não conseguirá repetir a produtividade de 51 a 52 sacas de soja por hectare registrada em 2014/15.
"A tendência desse ano é ser pior, e não se sabe o que tem pela frente (em relação ao clima)", disse o agricultor, evitando fazer estimativas de produtividade.
A tendência para os próximos dias é de manutenção das chuvas irregulares no Centro-Oeste, segundo a Somar Meteorologia.
"Não há previsão de chuvas generalizadas e nem tão pouco em bons volumes para a faixa oeste e central do Mato Grosso nesses próximos dias. As chuvas só deverão chegar a essas regiões entre sábado e domingo. Até lá até podem ocorrer algumas pancadas de chuvas, mas serão muito isoladas", afirmou nesta quarta-feira em boletim o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar.
Embora atrasado ante os últimos anos, o plantio de soja já está praticamente encerrado no Centro-Oeste, segundo levantamento mais recente da consultoria AgRural: 89 por cento concluído em Mato Grosso, 72 por cento em Goiás e 98 por cento em Mato Grosso do Sul.
Isso significa que as sementes em muitas áreas ainda estão começando a germinar, e a falta de chuvas pode reduzir o número de plantas que sobrevivem, elevando o risco de lavouras menos populosas e, portanto, menos produtivas.
Em Goiás, o plantio começou atrasado em outubro, foi interrompido novamente em meados de novembro e só começou a ser retomado nos últimos dias, tudo em função da falta de chuvas, segundo da Federação de Agricultura de Goiás (Faeg).
"A falta de chuvas em novembro afetou algumas lavouras plantadas mais cedo, que não tiveram replantio, mas terá perda de estande (população por metro quadrado)", destacou o consultor técnico da Faeg/Senar Goiás, Cristiano Palavro.
De maneira geral, a irregularidade de chuvas em Goiás chega a ser boa notícia, já que as últimas duas safras foram de seca generalizada e muitas perdas de produtividade.
"Na normalidade ruim que a gente estava vivendo, esse clima tende a ser um pouco melhor", afirmou Palavro.
Já na região de Sapezal, um dos maiores municípios produtores de soja do Brasil em extensão, no oeste de Mato Grosso, a irregularidade preocupa bastante.
"Realmente a coisa está bem complicada. Aqui as chuvas são esparsas. Quem tem sorte ganha uma chuva de 10 a 20 milímetros. Faz 30 dias que não temos uma chuva boa", afirmou o presidente do Sindicato Rural, José Guarino Fernandes.
Segundo ele, muitas áreas estão com soja de baixa estatura --uma consequência do desenvolvimento com pouca disponibilidade de água no solo--, mas muitos produtores optaram por não realizar o replantio, porque não haveria janela de tempo para uma posterior segunda safra de milho ou algodão.
Outra consequência do clima adverso é que os fertilizantes jogados não conseguem infiltrar na terra, por falta de chuvas, afirmou Fernandes, destacando outra ameaça à produtividade.