20
out
2009
Chuva atrasa o plantio e pode mudar a decisão do produtor

Umidade excessiva atrasa a nova safra no Paraná e dá ao produtor mais tempo para definir o que plantar


As chuvas da última semana adiaram o plantio, mas por outro lado deram mais tempo para o produtor definir a porção de terra que vai dedicar ao milho e à soja. Da região de Ponta Grossa à de Londrina e Maringá, percorrida na última semana pela Expedição Safra, as plantadeiras estão cerca de duas semanas atrasadas. E, nos planos do produtor, o milho perde espaço cada vez maior para a soja.

A Coopagrícola, de Ponta Gros­sa (Campos Gerais), reduziu sua área de milho em 61,6%, para 3,5 mil hectares, e ampliou a da soja em 17,1%, para 35 mil hectares. Tradicionalmente, a oleaginosa tem mais espaço, mas neste ano os preços e os estoques extras ampliaram a diferença, relata o presidente da cooperativa, Gabriel Nadal.

O trigo de má qualidade agravou o preço interno do milho, a­cha­­tado pelas cotações de Chi­cago, relata. “Boa parte do trigo que está sendo colhido será classificada como triguilho e terá de ser consumido como ração, reduzindo a demanda pelo milho”, explica. O coordenador comercial da empresa, Silvério Laskos, relata que o câmbio desfavorável reduziu a exportação de milho e cereal extra que ficou no mercado interno não encontra compradores.

Com a área reduzida a pouco mais de um terço da cultivada no ano passado, o milho terá produção 50% menor na região da Coo­pagrícola, cerca de 35 mil toneladas. A produtividade deve saltar de 6,6 para 9,9 mil quilos por hectare se o clima se normalizar, afirma o coordenador técnico, Jefer­son Maluta. Ele prevê rendimento 6% maior na soja (3,2 mil kg por ha), que teve redução por causa da seca na safra passada.

Nos Campos Gerais, quem conseguiu plantar reclama que as chuvas prejudicam o início do cultivo de milho. “Tive de replantar e reforçar o adubo três vezes”, afirma Fabiano Bitencourt, de Ponta Grossa. Com isso, os custos estão aumentando. A área do cereal em sua propriedade foi reduzida em 50%, para 36 hectares, enquanto a da soja teve aumento de 18%, chegando a 193 hectares.

Na região da cooperativa Witmarsum, de Palmeira, há produtores iniciando a safra e ajustando planos. “Deveria ter encerrado o plantio de milho, mas nem comecei”, afirma Artur Sawatzky, agropecuarista que dedica 180 hectares à produção de grãos e 90 à de leite. O plantio da soja, que deveria estar começando nesta semana, só deve ter início depois da semeadura do cereal.

A preocupação é com o rendimento. “Para cobrir custos, o mi­­lho teria de render 8,3 mil quilos/]ha, mas nossa média é de 7,7 mil”, afirma o gerente agrícola da Wit­marsum, Gernold Schartner.

Mesmo para quem só planta soja a situação do mercado é preocupante. Além das cotações baixas, faltam garantias ao produtor, reclama Alberto Serafim, de Sertanópolis (Norte). Ele cultiva 110 hectares de soja todo ano e pretende iniciar o plantio logo que a terra ficar menos encharcada. “Só os gastos iniciais, com insumos e sementes, consomem até 1,5 mil quilos de soja por hectare, considerando os preços de hoje. Mesmo assim, quem tenta vender não encontra comprador”, relata.

Com clima favorável no restante do ciclo, o Paraná pode colher até 25,5 milhões de hectares de soja e milho na temporada 2009/10, resondendo por até 22% da safra nacional desses dois grãos, estimada pela Conab em 115,5 milhões de toneladas.

 
Fonte: Gazeta do Povo - José Rocher
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