Se fosse no futebol, seria um gol salvador aos 45 do segundo tempo. A chuva que chega em todo o Paraná, entre quinta e sexta-feira, vai dar alegria – e alívio, principalmente – a uma torcida enorme de produtores rurais, que inclusive já lançaram as sementes ao solo para não perder mais tempo.
Segundo a meteorologia, a chuva chega nesta quinta-feira e se intensifica na sexta e no sábado, em todo o Paraná, prosseguindo com pancadas esparsas no início da semana que vem. O bloqueio atmosférico provocado por uma massa de ar quente no Centro-Oeste, que segurou as nuvens durante semanas, finalmente enfraqueceu.
A preocupação dos produtores em não atrasar a lavoura de verão se explica olhando mais adiante, para a curta janela de plantio do milho de segunda safra, que precisa ser semeado entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira quinzena de fevereiro. Um atraso prolongado agora pode até inviabilizar a “safrinha” do ano que vem.
“Nessa hora vemos a importância do plantio direto, que é feito em 95% do Paraná. Isso favorece a germinação das sementes, porque, mesmo com a estiagem, se puxar a palhada, o solo não tem a compactação ou as rachaduras que se veem no sistema convencional”, aponta Francisco Simioni, diretor do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná.
Para comparação, no ano passado, nesta época, os paranaenses já haviam plantado a soja em cerca de 15% da área, enquanto o índice atual é de apenas 1%. No milho, o plantio já deveria ter alcançado 52%, mas ainda não chegou sequer a 20%.
“O Paraná deveria ter começado o plantio lá pelo dia 15, essa vantagem de saída já perdemos. Como o Mato Grosso também está atrasado, o perigo é todo mundo plantar junto, e um problema climático pode ter reflexos mais fortes, tanto no abastecimento como na comercialização. Não é bom que toda a oferta venha em uma hora só”, avalia Simioni.
Desistência
O produtor Alexandre Lago, de Cascavel, já desistiu dos planos para milho safrinha no ano que vem, por causa do atraso no ciclo atual. “Pelo zoneamento em nossa região, teríamos de plantar a safrinha até o final de janeiro. Eu desisti. Quando chegar a hora, vou escolher entre trigo ou feijão”, afirma. Lago diz, contudo, que a maioria dos vizinhos plantou na poeira, esperando pela chuva. “O pessoal está arriscando, e com variedades precoces, pode dar certo. Mas eu acho muito arriscado. Se chove forte em cima da semente, pode fazer uma compactação do solo, e a planta não germina”, avalia.
Em Londrina, onde o zoneamento agrícola permite plantar milho safrinha até a 1ª quinzena de março, os produtores vão aguardar a chuva cair antes de semear a safra de verão. “Tá todo mundo esperando. Se plantar agora, em nosso solo argiloso, e der um chuvisqueirão, cria uma crosta e a planta fica muito ruim”, relata o produtor Milton Casaroli, que pretende cultivar 250 hectares com soja.
Se o calendário atrasado realmente tirar muitos produtores do próximo milho safrinha, pode haver falta do grão em maio ou junho de 2018. Nem mesmo essa perspectiva, de melhoria de preços pela escassez, muda os planos de Casaroli. “O milho é coisa de mercado interno. Tem que ver os estoques de passagem no Centro-Oeste, a gente nunca sabe ao certo quanto milho tem lá. A turma não anda confiando muito no milho, a rentabilidade é ruim, o preço da semente está caro. A soja é o mercado mais honesto para nós, é commodity, tem mais liquidez. Nós gostamos de plantar soja, mas plantamos o milho pela necessidade de cuidar do solo”, confessa Casaroli.
Para a safra de verão que se inicia, o ideal seria chuva agora e um período de tempo bom para que o maquinário possa entrar nas lavouras. Essa trégua tem boas chances de acontecer – de acordo com Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia. “Deve chover forte até meados da semana que vem, chegando a passar de 100 mm nas regiões Central e Oeste do estado. Depois de terça-feira, o tempo volta à normalidade pelo restante de outubro”, afirma o meteorologista.
A situação climática neutra deve dar lugar nos próximos meses aos efeitos de um curto fenômeno La Niña, causado pelo resfriamento acentuado da temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico Equatorial. Para o Sul do país, isso pode significar episódios de chuvas fortes, rajadas de vento, descargas atmosféricas e eventual granizo.
“Se for confirmado este La Niña, poderemos ter chuvas irregulares e mal distribuídas, e chance grande de um veranico mais prolongado em todo o Sul do Brasil, em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraguai e parte da Argentina”, prevê Lazinski.
O que é o zoneamento agrícola
O Zoneamento Agrícola é um mapa produzido pela Embrapa com o calendário adequado de plantio para os municípios brasileiros, conforme o tipo de solo e variedade das plantas. O objetivo é evitar que adversidades climáticas recorrentes atinjam as lavouras nas fases mais sensíveis. A ferramenta indica que em cada dez safras há a possibilidade de obter sucesso em pelo menos oito. Quem não obedece ao zoneamento agrícola não tem direito ao Proagro e nem à subvenção federal ao prêmio do seguro rural. Além disso, alguns agentes financeiros condicionam a concessão do crédito rural ao uso do zoneamento.
Fonte: Gazeta do Povo
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