19
jun
2012
Brasil trava corrida por produtividade
Fazendas que alcançaram recordes em ano de seca provam que médias nacionais estão abaixo do potencial das lavouras

Cassiano Ribeiro

O Brasil pode se considerar referência internacional em produtividade de grãos, mas ainda tem muito a evoluir. No caso da soja, a depender do clima, o rendimento médio nacional chega a 3 mil quilos por hectare, superando inclusive a marca dos Estados Unidos, maior produtor da commodity. No milho, apesar das condições agroclimáticas menos favoráveis, os agricultores brasileiros atingem metade do índice norte-americano. A média de 4,3 mil quilos por hectare representa avanço de 94% em 20 anos. No entanto, o consenso entre os especialistas é que o Brasil está na metade do caminho e poderia colher 1 mil kg/ha a mais tanto no cereal quanto na oleaginosa com ajustes na produção.

Fazendas brasileiras provam que, de norte a sul, quando o trabalho no campo é feito com excelência, é possível produzir mais. Mesmo com as chuvas escassas e irregulares do último verão, houve milhares de casos em que a produtividade superou os 6 mil kg/ha (100 sacas) de soja e os 12 mil kg/ha (200 sacas) de milho.

Para subir os degraus da produtividade, não existe receita pronta, garantem os técnicos. Por outro lado, eles afirmam que não há nenhum grande mistério. Apontam para a quebra de paradigmas e, principalmente, a especialização do produtor rural.

“Não só é possível crescer, mas é extremamente rentável. Estamos quebrando um senso comum, um dogma, que circulava no meio rural. O produtor não investia na lavoura para não perder muito dinheiro em caso de uma frustração da safra”, afirma Décio Gazzoni, agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, de Londrina (PR).

Essa ideia tem ficado cada vez mais para trás à medida que os ganhos se multiplicam quando não se poupa investimentos no campo. “Se existe segredo, é tratar bem o solo. Quando isso ocorre, a natureza agradece e responde de imediato. Com as demais tecnologias, a produtividade se potencializa”, acrescenta.

Exemplo paranaense

Dono da fazenda mais produtiva do Sul do país, o paranaense Ely de Azambuja Germano Neto é um dos agricultores que conhece de perto o resultado de um trabalho bem conduzido no campo. Em pleno ano de quebra de safra, a fazenda Mutuca, de Arapoti (Campos Gerais), fechou o ciclo 2011/12 com produtividade média maior que a do ano anterior: 4,5 mil kg/ha de soja, contra 4,2 mil alcançados em 2010/11, ano de colheita recorde para o país.

“O ‘grosso’ dessa produtividade é decorrente de um trabalho de mais de 25 anos de plantio direto, qualidade química, física, orgânica e biológica no solo”, afirma Germano Neto, que é agrônomo e cuida do planejamento técnico da fazenda junto com um funcionário. Além de soja, milho, trigo e aveia, a Mutuca é uma grande produtora de palha.

A cada 12 toneladas de milho colhidos anualmente, outras 12 toneladas de palha ficam para a cobertura do solo, afirma Neto. E é essa massa orgânica que tornam a terra da Mutuca o bem mais valioso da família Germano.

O caso do produtor e da fazenda paranaense não é isolado, lembra Orlando Martins, diretor-presidente do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), que há dois anos premia os proprietários das terras mais produtivas do país. “A média de produtividade dos dez primeiros colocados no concurso tem subido e chegou a 95 sacas de soja por hectare neste ano. Se temos lavouras produzindo 108 sacas, podemos dizer que esse é o potencial da cultura”, aponta.

Martins acredita o Brasil terá condição de produzir entre 5,4 mil e 6 mil kg/ha de soja. No milho, a referência do setor, por enquanto, tem sido a média norte-americana, que está em 9 mil kg/ha, o dobro da brasileira.

Resultado concentrado

Para elevar sua produtividade, cada agricultor precisa identificar pontos em que pode melhorar.

• Palha cumulativa

Mesmo fazendas localizadas em regiões de solo pobre estão superando as médias nacionais com o uso do plantio direto na palha. Quanto maior é o volume de palhada sobre o chão, mais coberto e protegido fica o solo. Além disso, a massa orgânica preserva reservas de água cruciais em períodos secos.

• Planejamento

Antes de escolher as sementes e adubos, o produtor rural precisa se atentar para as previsões agroclimáticas da safra. Os dados definem também a melhor época para o plantio e o espaçamento ideal entre as plantas.

• Apoio técnico

A dosagem de fertilizantes e agrotóxicos deve respeitar prescrições técnicas. As recomendações mudam dependendo da fase de estruturação da própria área. Cada variedade exige propriedades diferentes da terra.

• Investimento

Os investimentos podem ser considerados um tiro no pé se não houver planejamento. Por outro lado, segundo os técnicos, não há como avançar em produtividade sem uma elevação nas apostas.

Fonte: Gazeta do Povo
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