19
mar
2010
Brasil pensa em rever política do trigo; pode elevar taxa, diz ministro

 

A política do Brasil para o trigo está em discussão no governo brasileiro, que busca formas de tornar a produção do cereal no país mais estável, sem as altas e baixas de anos recentes, disse nesta quinta-feira o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.

A mudança pode incluir um aumento da taxa para importação do trigo de países de fora do Mercosul, segundo ele.

"Precisamos definir qual o nível de política... É muito instável a nossa política de trigo", afirmou o ministro a jornalistas.

Até o dia 20 de março, novas regras para o plantio de trigo serão anunciadas, incluindo condições de crédito e uma possível elevação da tarifa.

"A Argentina deverá voltar a produzir, e o Paraguai e o Uruguai têm aumentado sua produção", afirmou Stephanes.

Importações de trigo de países do Mercosul são isentas de taxa, e uma eventual elevação da tarifa beneficiaria os produtores das nações integrantes do bloco comercial, tornando ao mesmo tempo mais difíceis as compras no hemisfério norte.

Stephanes afirmou que deverá ser levada à Câmara de Comércio Exterior (Camex) uma proposta de elevar a tarifa de importação do trigo, atualmente em 10 por cento.

De acordo com o ministro, o governo entende que o Mercosul poderá atender à demanda do Brasil no ano. O país produz cerca de 5 milhões de toneladas e o consumo fica em torno de 10 a 11 milhões de toneladas.

Mais cedo, também a jornalistas, ele já havia se queixado da atuação da indústria no processo, lembrando que os moinhos, estocados com o produto importado no início da colheita brasileira, pressionam os preços do grão nacional, afetando a rentabilidade do produtor.

"Quando começa a colher o trigo, no final de agosto, os moinhos ficam estocados e não compram, e forçam a baixa (de preço). Então essas questões têm que ser vistas, tem que ver como isso fica", declarou.

Na safra passada, quando as chuvas afetaram a qualidade de boa parte do cereal colhido no Brasil, o governo teve que atuar fortemente para garantir a liquidez da comercialização. De uma safra de 5 milhões de toneladas, apoiou com o PEP (programa que subsidia o transporte) mais de 60 por cento da produção.

"No primeiro ano, estabelecemos uma política e foi tudo ótimo. No segundo, tivemos problemas de qualidade e moinhos estocados forçaram a baixa do preço. Então agora precisamos definir melhor o que queremos de uma política de trigo", disse.

Uma nova política envolveria financiamentos, seguro e "algo fundamental", segundo o ministro: "Vamos manter a importação de trigo no sentido de pressionar os preços na época da colheita? Essa é uma questão que precisa ser definida".

CAFÉ

Segundo o ministro, as mesmas chuvas que afetaram a qualidade do trigo no ano passado poderão proporcionar uma colheita irregular de café, uma vez que os cafezais, com as precipitações fora de época, tiveram várias floradas.

Na hora da colheita, alguns grãos de café poderão estar verdes e outros maduros, em uma proporção maior do que o normal, o que pode resultar em problemas de qualidade na safra.

"Pode eventualmente atingir a qualidade do café, não posso falar isso, mas é a conclusão lógica que se tem. Começa a colher em abril, e ainda é um pouco cedo para se ter conclusão."

O ministro disse que as chuvas excessivas também devem reduzir em 1 milhão de toneladas a safra de arroz, "algo em torno de 10 por cento da produção".

Por outro lado, as precipitações estão favorecendo, até o momento, a safra de soja e milho, cuja colheita está se desenvolvendo.

FERTILIZANTES

Segundo Stephanes, o governo atua em três frentes para tornar o país autossuficiente em fertilizantes no prazo de 10 anos.

Na primeira delas, a Petrobras estuda a questão dos nitrogenados. "Isso está bastante avançado, mas não posso dar detalhes, não cabe a mim."

Na segunda frente, o governo trabalha em uma proposta para separar a produção minerária de fertilizantes da de outros produtos, como ouro, por exemplo.

Segundo Stephanes, um novo Código Mineral está em elaboração, para tratar de questões como ouro e diamante, mas a "agricultura não pode ficar 10 a 15 anos" à espera da legislação. "Então o governo vai fazer uma lei para tratar de fósforo e potássio", disse.

Ele disse que uma proposta de lei para regular a produção minerária de fertilizantes será entregue ao Congresso no mês que vem.

A terceira frente para agilizar a produção de fertilizantes no Brasil é a análise das licenças de exploração. A medida vai avaliar o que poderá ser feito para as minas cuja produção se encontra parada.

Fonte: Reuter - Agrolink

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