04
out
2012
Brasil busca alternativa ao trigo da Argentina

O Brasil terá um volume de trigo limitado para importar da Argentina e precisará comprar pelo menos 1,5 milhão de toneladas de algum outro país para fechar as 6,7 milhões de toneladas necessárias ao abastecimento interno.

Essa conta, conhecida dos analistas do setor, está fazendo a indústria correr atrás de novos fornecedores, entre eles o Paraguai. Os grãos que os vizinhos do Mercosul não fornecerem devem custar 10% a mais só pela cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC).

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), o Paraguai é uma boa alternativa. Empresários de 14 indústrias brasileiras estiveram no país vizinho para averiguar essa possibilidade e voltaram otimistas. A conclusão, segundo a Abitrigo, é que a população paraguaia consome apenas um terço da produção interna, estimada em 1,4 milhão de toneladas nesta temporada.

No entanto, o Paraguai tem 35 clientes para seu trigo. Ou seja, a disponibilidade de 935 mil toneladas não significa que esse volume esteja disponível ao Brasil. Por enquanto, a participação brasileira tem sido de 40% nos últimos anos, informa a Abitrigo. Neste ano, as compras já chegam a 500 mil toneladas. Os produtores paraguaios mostram disposição para ampliar os negócios com o Brasil, conforme o assessor técnico da associação, Luiz Carlos Caetano, que participou da incursão.

O Brasil está acostumado a importar trigo. Consome entre 10 e 11 milhões de toneladas mas produz apenas metade desse volume. Neste ano, com queda de 10% na produção, terá 5,2 milhões de toneladas internamente.

A produção doméstica atende um mercado com demanda de aproximadamente 6 milhões de toneladas “do Rio de Janeiro para baixo”, explica o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Oce­­par), Flávio Turra. Para a me­­tade norte do país, o trigo estrangeiro chega mais barato que o nacional, devido ao peso do custo do transporte interno pelas rodovias ou pelo mar.

Nem por isso o Sul é autossuficiente. “O Rio Grande do Sul tem exportado volumes expressivos nas últimas safras”, aponta o consultor Luiz Carlos Pacheco. Neste ano, o estado gaúcho é responsável por 80% dos embarques de 1,9 milhão de toneladas, conforme o governo federal. Os moinhos gaúchos não dão conta da produção interna e, além disso, para compor misturas mais adequadas à demanda, importam boa parte do que consomem. Perto de 800 mil toneladas do cereal que começa a ser colhido nas lavouras gaúchas estão comprometidas em contratos de exportação, afirma Pacheco.

O Paraná, que reduz a área plantada há três safras consecutivas, vem exportando menos que o Rio Grande do Sul. Da safra nova, menos de 100 mil toneladas estariam comprometidas. Mas também enfrenta demanda limitada. Na última semana, teve de brigar para suspender leilões que liberariam 51,7 mil toneladas dos estoques públicos para evitar queda nas cotações domésticas. O preço ao produtor oscilou, mas se mantém perto de R$ 35 por saca de 60 quilos. A indústria de pães está pagando R$ 61,5 por saca de 50 quilos de farinha no estado, com alta de 12% no último mês.

O preço vem sendo influenciado pelas cotações internacionais, cuja tendência de alta deve-se a quebras climáticas registradas nos países exportadores (Argentina, Rússia, Austrália). Nos próximos dias, deverão refletir também o impacto das geadas tardias e do granizo registrados no Sul brasileiro nas duas últimas semanas. Segundo a Emater gaúcha, não há dúvida de que houve perdas, mas os estragos ainda estão sendo quantificados.

Eventos debatem perspetivas da triticultura

As contradições do mercado brasileiro do trigo instigam debates sobre a triticultura e a indústria de alimentos. Os produtores rurais, pressionados a melhorar a qualidade, ainda têm dúvidas sobre o potencial da demanda pelos grãos que se consegue colher no Sul do país.

A cooperativa Agrária, de Entre Rios (Guarapuava, Centro do Paraná), realiza um Fórum Nacional do Trigo nos dias 15 e 16 deste mês e o WinterShow 2012 nos dias 17 e 18. Devem participar lideranças como o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral, o presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski. O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, também está na programação e ainda deve confirmar presença. Os produtores querem saber o que pensam moageiros, executivos e representantes do governo.

O WinterShow é apontado como o maior evento técnico brasileiro sobre cereais de inverno. Com público estimado em 3 mil pessoas, apresenta também estandes de 40 empresas do agronegócio e máquinas agrícolas.

Florianópolis

Debate similar será realizado em Florianópolis (SC), nos dias 21 a 23 deste mês, pela própria Abitrigo, no 19.º Congresso Internacional do Trigo. A associação passa a defender maior integração entre os elos da cadeia da farinha sob o tema “A hora e a vez do trigo”.

A Abitrigo pede que os produtores busquem mais qualidade e diversidade na hora de escolher as sementes. Entre os convidados, estão o chefe-geral da Embrapa Trigo, Sérgio Dotto, e o coordenador de desenvolvimento de trigo do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Carlos Roberto Riede. Haverá representantes também da indústria de panificação.

Uma mesa-redonda vai discutir a política nacional para o trigo. O setor defende a desoneração fiscal e busca soluções para problemas de logística. Ainda não há projetos para tornar mais barata e viável a cabotagem, por exemplo, permitindo a distribuição do trigo produzido no Sul aos consumidores do Norte e do Nordeste.

Outro debate aberto pela Abitrigo vai discutir a relação do cereal com a alimentação saudável. Deve participar a gerente de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Denise de Oliveira Resende. A qualificação dos trabalhadores da indústria também preocupa. Esse tema ficará por conta do diretor da Bunge Alimentos, Gilberto Tomazoni.

 
850 mil toneladas de trigo são consumidas ao mês no Brasil. Na região em que o trigo doméstico chega a preço competitivo, o consumo é de 500 mil toneladas ao mês. Mesmo que toda a produção nacional fosse retida para essa região, faltaria perto de 1 milhão de toneladas para cobrir a demanda.

Fonte: Gazeta do Povo

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