O Ministério da Agricultura autorizou nesta quarta-feira a importação de trigo russo inicialmente por moinhos do Norte e Nordeste do Brasil, o que dá mais uma opção para o setor no país, fortemente importador.
De acordo com a pasta, a escolha de indústrias e de portos dessas regiões se deve à proximidade com o país euroasiático e também visa a preservar áreas de produção do cereal, localizadas principalmente no Sul do Brasil, além de evitar desvios de cargas, confirmando reportagem da Reuters publicada na semana passada.
Embora o levantamento dos estabelecimentos aptos a receber o trigo russo ainda esteja sendo realizado, o secretário de Defesa Agropecuária, Luis Rangel, explicou que há terminais portuários em Manaus, Ceará e Recife, próximos aos moinhos importadores de trigo de outros países, que poderão receber os primeiros embarques.
O Porto de Santos (SP) também possui moinho e poderá receber o produto no futuro.
“Vamos cadastrar os moinhos conforme a demanda de importadores junto ao Departamento de Sanidade Vegetal (DSV)”, explicou ele em nota.
NOVO TEXTO
Rangel esclareceu que a instrução normativa publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira revisa um regulamento de 2009 e agora permite a importação de trigo “com determinadas pragas quarentenárias (especificamente, ervas daninhas), desde que a presença seja informada pelos russos e sejam adotadas medidas contundentes de mitigação dos riscos no Brasil”.
Dessa forma, o Ministério estabeleceu que o trigo deverá passar por um processo de fumigação (processamento) em moinhos próximos dos terminais importadores, evitando-se a circulação do grão em território nacional.
Para o operador de grãos João Batista Cardoso, da ASA Trading no Leste Europeu, o trigo russo será uma opção para os Estados mais ao Norte do Brasil, mas dificilmente para regiões mais ao Sul, que seguirão comprando da Argentina.
“Você pode procurar trigo russo com 11,5 ou 12 por cento de proteína a 190 ou 191 dólares por tonelada FOB nos portos do Mar Negro. Você pagará cerca de 30 dólares por tonelada para trazê-lo ao Brasil”, disse.
O Brasil é um importador líquido de trigo. A produção brasileira em 2017 foi estimada pelo governo em menos de 5 milhões de toneladas, após a produção recorde de 6,7 milhões de toneladas em 2016, que desestimulou o plantio neste ano em meio a preços mais baixos.
Tal quebra de safra, por sinal, deve fazer o país comprar em 2017 o maior volume de trigo em quase uma década.
Atualmente, o Brasil importa trigo principalmente da Argentina, mas também de Estados Unidos, Ucrânia, Canadá e, agora, da Rússia.
NEGÓCIOS
A liberação do trigo russo ocorre em um momento em que o governo brasileiro busca reabrir aquele mercado às carnes nacionais.
A Rússia suspendeu no fim de novembro as compras de proteínas brasileiras alegando a presença do aditivo alimentar ractopamina, proibido por lá, em alguns lotes.
Mas a indústria de carnes já vislumbra a retomada daquele mercado.
Mais cedo nesta quarta-feira, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, disse que a reabertura da Rússia é iminente.
A ABPA representa os produtores de carnes suína e de frango.
Fonte: Reuters
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