15
dez
2009
Artigo: Contribuição das espécies ancestrais do trigo
A introdução de variação genética, a partir de espécies ancestrais ao trigo cultivado (Triticum aestivum), tem sido um importante método para o aumento da diversidade genética. Estas espécies têm como características importantes a presença de genes que conferem resistência e/ou tolerância a vários estresses bióticos ou abióticos, tais como resistência à ferrugem da folha, ao oídio, a manchas foliares, ao encharcamento, à salinidade, à seca, entre outros.


A partir do cruzamento dessas espécies com o trigo cultivado, a probabilidade de incorporação de resistência/tolerância no novo cruzamento é elevada, principalmente porque a constituição genética do trigo (poliploidia) confere a este certas características que facilitam a incorporação de genes de espécies próximas.


Porém, durante muitos anos e como resultado da busca de uniformidade varietal, tão importante no melhoramento genético, foi reduzido o número de indivíduos variantes em cada espécie cultivada ocasionando a erosão genética na agricultura. Além disso, considerando a importância da auto-suficiência na produção do trigo no Brasil e a essencialidade desta cultura na sustentação dos sistemas de produção de grãos, o melhoramento genético varietal tem sido uma das mais importantes estratégias para aumentar e estabilizar a produtividade.


Ressalta-se, ainda, que não existe melhoramento sem a presença de variabilidade genética e portanto, ela deve ser conhecida e preservada. Assim sendo, as espécies silvestres, ancestrais ao trigo, são recursos genéticos valiosos para obtenção de novos genes agronomicamente úteis, principalmente quando as fontes de variabilidade estão exauridas dentro do material cultivado. São utilizadas, então, formas exóticas das espécies ou gêneros relacionados à espécie cultivada, para que sejam obtidos híbridos intergenéricos ou interespecíficos. Destacam-se os gêneros próximos como Secale, Aegilops e Agropyron e as diferentes espécies de Triticum: Triticum monococcum, T. turgidum, T. durum, T. dicoccum e T. tauschii.


Neste sentido, cruzamentos direcionados entre indivíduos contrastantes de uma mesma espécie ou entre espécies relacionadas evolutivamente podem ser extremamente úteis como fontes de variabilidade genética à disposição do melhorista. Para a incorporação das novas características agronômicas são usadas as mais diferentes estratégias na obtenção de híbridos viáveis e férteis, sendo que para as análises destas características são necessárias técnicas celulares e moleculares, uma vez que os genes de interesse podem ser perdidos ao longo das gerações ou então adicionados inequivocamente, gerando, em alguns casos, instabilidades genéticas, o que pode ser evitado se for feita a escolha do genitores previamente.


 


Fonte: Sandra Patussi Brammer,
Pesquisadora da área de genética e citogenética molecular da Embrapa Trigo
sandra@cnpt.embrapa.br

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