Decorridas duas décadas desde a revogação do Decreto n° 210, que estabelecia uma intervenção dominante do Estado sobre o mercado do trigo, começa a delinear-se um novo ordenamento para este importante setor da economia, dentro da perspectiva da qualidade, da agregação de valor e do entrosamento entre os diferentes elos da cadeia produtiva.
Os produtores dão-se conta de que um trigo de qualidade e com mais variedades obtém um melhor preço. Os moinhos investem na diversificação da farinha para atender à demanda de um consumidor de maior poder aquisitivo e mais exigente. O setor da panificação passa por uma transformação não menos profunda que visa a ampliar o conceito da padaria para incluir a refeição rápida e a loja de conveniência. A indústria dos derivados do trigo - massa e biscoitos - se ajusta à expansão da demanda por alimentos mais sofisticados.
O Governo apoia estas transformações, ao promover pesquisas da Embrapa voltadas para a melhoria do trigo, maior produtividade e variedade. Introduziu uma nova classificação para incentivar a qualidade, ao mesmo tempo em que reduziu os tributos sobre a farinha. Assim, o Governo gastará menos no escoamento do trigo que não estiver ajustado à demanda dos consumidores e poderá redirecionar recursos para remover os gargalos de logística, particularmente no armazenamento e nos transportes.
Hoje, as cadeias alimentares, consumidores e governos, em muitos países, estão empenhados numa campanha por uma vida saudável e, neste contexto, por uma alimentação saudável. Esta é uma tendência irreversível, que beneficia o trigo, que não contém os vilões da boa alimentação: o sal, o açúcar e as gorduras.
Por fim, no âmbito desta evolução positiva, um dos desafios para os produtores de trigo e para a indústria moageira, que é a concorrência desleal da farinha subsidiada proveniente da Argentina, poderá caminhar para uma solução. O Governo argentino retirou recentemente uma parcela dos subsídios dados à farinha argentina, cujas exportações para o Brasil deverão assim reduzir-se ou pelo menos estabilizar-se.
Parece assim chegada a Hora e a Vez do Trigo. Dentro de uma perspectiva de modernização da cadeia produtiva todos ganham: o produtor, que terá melhor remuneração por um trigo de qualidade; o moinho terá condições de atender à demanda de um consumidor mais exigente; a indústria poderá disputar com êxito mais ampla fatia do aumento do consumo de alimentos por parte da população. O consumidor terá o produto que deseja comprar.
Presidente Abitrigo
Associação Brasileira da Indústria do Trigo