Na avaliação do analista sênior da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, a Argentina não terá condições de fornecer todo o trigo panificável que Brasil demanda. Isso porque o país vizinho não investiu o que era necessário nesta safra, o que comprometeu a qualidade do cereal.
Alfredo Biondi, Prosecretario do Matba (Mercado a Término de Buenos Aires), explica que foi “uma safra muito complicada, dado que o agricultor tinha muitos custos e [na época do plantio] nenhuma perspectiva clara sobre o que ocorreria [na política local]. Então, não gastou muito em tecnologia e por isso vamos ter sérios problemas de qualidade, agravados pelo clima, que não ajudou”.
“O trigo pão argentino [de condição Câmara], não serve para fazer pão. O mercado, então, tem que ser seletivo e começar a aplicar preços diferenciados. Ao ter um padrão que só serve para fazer mescla e que não exige qualidade de panificação, partimos de uma premissa equivocada”, disse o executivo ao periódico ON24 Agro, da Argentina.
Calcula-se que a safra deverá produzir 8,5 milhões de toneladas de trigo panificável (das 9,6 milhões de toneladas a serem colhidas). No entanto, com o clima atual é possível que este volume seja menor. “Talvez a Argentina não tenha todo o trigo melhorador que o Brasil precise”, avalia Pacheco.
“Se a Argentina realmente produzir apenas 8,5 MT de trigo panificável e a indústria local consumir 6,5 MT significa que restarão apenas 2,5 MT de trigo desta safra para exportação. Acredita-se, também, que, das 3,2 MT da safra passada ainda disponíveis, cerca de 1,0 MT seja de trigo de condição Câmara, a maior parte em Necochea. O país, então, teria uma disponibilidade de exportação de aproximadamente 4,6 milhões de toneladas de trigo panificável, mas já comprometeu cerca de 1,1 milhão de tons com o Norte da África, de modo que restaria ao Brasil, cerca de 3,5 milhões de toneladas, insuficientes para abastecer o mercado brasileiro com trigo melhorador”, conclui o especialista.