O crescimento da área plantada com soja no Brasil na temporada 2016/17 deverá ser o menor da última década, com alguns produtores apostando no plantio de milho no verão e com crédito mais caro limitando investimentos, apontou nesta quarta-feira uma pesquisa da Reuters com analistas de mercado. A área dedicada à soja no verão de 2016/17 deverá subir 2 por cento, para 33,9 milhões de hectares, conforme a média de cinco estimativas, após um plantio de 33,23 milhões de hectares em 2015/16.
Se confirmado, o aumento do plantio deverá ser o menor desde 2006/07, quando chegou a haver um recuo de 9 por cento na área no país, segundo dados históricos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Desde aquele ano a área semeada com soja no país saltou impressionantes 60 por cento, na esteira de uma grande demanda global por produtos agrícolas, especialmente na China, maior compradora de commodities do Brasil.
Produtores ainda estão finalizando as decisões de investimento, uma vez que o plantio começa efetivamente em outubro. Isso também dificulta o trabalho de previsão das consultorias e entidades do setor. Pelo menos uma dezena de fontes consultadas pela Reuters ainda não divulgaram suas previsões para 2016/17. Um fator que ressurge como influência para a expansão da soja é a competição com o milho, que está com preços em patamares perto de recordes.
A consultoria Safras & Mercado, que estima o incremento de área de soja em 0,9 por cento no Brasil, destacou que "a perspectiva é de manutenção da área no Paraná, com o milho voltando a ganhar alguma área devido ao preço". Critérios mais rígidos para a concessão de crédito, juros mais altos e até a inadimplência de alguns produtores que sofreram com perdas climáticas na colheita de soja e na "safrinha" de milho também freiam a expansão de área.
"A dificuldade de acesso ao crédito é um limitante. O custo de abertura de novas áreas é impagável nessa conjuntura de custos. E duas quebras de safra, a de soja e a milho (em 2015/16), tiraram o recurso do produtor", destacou o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso, Endrigo Dalcin. Ainda assim, analistas destacam que o incremento médio apontado na pesquisa de quase 700 mil hectares no país não pode ser considerado desprezível.
"A oleaginosa ainda apresenta grandes fatores que a tornam a 'menina dos olhos dos produtores': rentabilidade (menores gastos num momento de crédito escasso), liquidez (grande demanda de fixação antecipada, o milho verão não tem tamanha aderência), preço e clima (ainda há muitas dúvidas sobre o La Niña, mas num cenário de incertezas climáticas, a soja tem maior rusticidade)", destacou o analista Aedson Pereira, da Informa Economics FNP.
A consultoria projeta crescimento de 1,1 milhão de hectares no plantio de soja na próxima temporada. Segundo a consultoria França Junior, o aumento nos custos de insumos na última safra e as quebras de produtividade não foram suficientes para abalar a chamada lucratividade bruta da soja, que é diferença entre custos e o valor obtido com a venda do grão.
No Paraná, por exemplo, os produtores obtiveram um lucro bruto de 43 por cento sobre os valores desembolsados para o plantio da safra 2015/16. Isso sem falar que a soja apresentou mais uma vez rendimento superior a outros tipos de investimentos, como diversas aplicações bancárias, compra de dólares ou de ouro. "Esses números sugerem a manutenção da opção dos produtores brasileiros pela soja na safra 2016/17", disse o analista Flávio França Junior em relatório a clientes.
MAIS DE 100 MI T
Em relação à produção, o Brasil deverá finalmente superar a marca simbólica de 100 milhões de toneladas colhidas, apontou a média de sete estimativas de fontes consultadas pela Reuters. A colheita 2016/17 deverá atingir um recorde de 103,8 milhões de toneladas, após 95,31 milhões em 2015/16, uma temporada que foi afetada por chuvas irregulares em diversas regiões produtoras e que foi menor do que no ano anterior.