07
mar
2014
Área de trigo no Paraná deve crescer 20%


Levantamentos do Cepea e do Deral mostram que a cultura tem potencial para ocupar espaços do milho safrinha

Renegado há alguns anos no Estado, reflexo da falta de liquidez, preços não muito convidativos e qualidade abaixo da exigida pelos moinhos, o trigo deve voltar a registrar aumento de área em terras paranaenses nesta safra de inverno. Levantamentos de custos de produção realizados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e também estudos feitos pelos técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura (Seab), mostram que a cultura tem potencial de expansão, inclusive sobre as áreas do milho safrinha.

Números do Deral do dia 24 de fevereiro já confirmam que a área do milho sofreu retração em comparativo à safra 2012/13. A área – que já está 57% plantada – deve cair de 2,1 milhões de hectares para 1,9 milhão de hectares, uma queda de 12%. Já a produção deve retrair algo em torno de 2%, fechando em 10 milhões de toneladas.

Os números do trigo ainda não foram divulgados, mas o técnico do Deral, Hugo Godinho, prevê um aumento de área em torno de 20%. O cereal pode substituir o milho em algumas áreas - como no Norte e Oeste do Estado – e em outras apenas expandir, como acontece no Sul, região onde não se planta milho segunda safra. "Vale dizer que o produtor faz um planejamento antecipado sobre qual cultura vai optar. Em novembro, o preço do trigo era 2,8 vezes maior que o do milho e, segundo nossos cálculos, a partir de 2,1 vezes, ele já pode pensar em optar pelo cereal. Não há dúvidas que teremos uma expansão do trigo nesta temporada", relata ele.

Os cálculos do Cepea mostram que a rentabilidade do trigo chega a 30% sobre os custos operacionais, enquanto a do milho apresentou margem negativa de 17%. Para esse resultado, foram considerados os valores médios pagos pelos insumos e também os de venda da produção referentes aos meses de novembro de 2013 a janeiro deste ano. Mesmo ao se computar os custos totais (operacionais e fixos), o trigo aponta igualdade com a receita total, enquanto para o milho, sobre o custo total, as margens negativas são ampliadas.

Para o trigo, na região Norte do Paraná, tomou-se como base uma produtividade média de 47,52 sacas (sc) por hectare. Os dados médios apontam que o custo operacional da lavoura seria de R$ 32,59/sc em janeiro e que considerando um preço médio de R$ 42,50/sc de 60 kg, geraria rentabilidade de 30,4%. Para o milho segunda safra, na mesma localidade, o custo operacional seria de R$ 22,32/sc, para uma produtividade de 74,38 sc/ha. Com preço médio de R$ 18,54/sc de 60 kg, a rentabilidade seria negativa, em 17%. "Na média, o trigo apresentava valores fortes no mercado doméstico e o no papel ele parece rentável. Entretanto, o produtor sabe qual é a melhor cultura para sua condição, já que o milho tem muito maior liquidez. A negociação do trigo geralmente é complicada com os moinhos, que também batem muito forte na questão de qualidade", complementa Mauro Osaki, pesquisador do Cepea.

Esses resultados levaram em conta a produção dos dois cereais nas regiões paranaenses de Cascavel e Londrina. A simulação baseou-se em coeficientes técnicos (doses de insumos e produtividades) da safra 2012/13 levantados pela equipe do Cepea junto a produtores e consultores das praças estudadas, com a metodologia denominada "painel", na qual se define uma propriedade padrão local.

O Brasil não é autossuficiente e necessita importar pelo menos metade do trigo necessário para atendimento do consumo doméstico. Nos últimos anos, apenas medidas paliativas foram tomadas para suprir as necessidades mais urgentes, sem readequar a produção da cultura à demanda interna. A histórica dificuldade de comercialização do trigo e a falta de apoio governamental são os principais fatores que fazem com que o produtor migre cada vez mais para a produção do milho de segunda safra.

Victor Lopes


Fonte: Folha Web

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