10
ago
2016
Após perder espaço na soja, Embrapa reage para recuperar mercado

A Embrapa está virando a página quando se trata de soja. Detentora de ao menos 60% do desenvolvimento de novas variedades no setor no final dos anos 1990, a empresa foi perdendo espaço ano a ano nesse mercado. O resultado é que, atualmente, tem uma participação inferior a 5%. Mas a empresa começa a dar a volta por cima e deverá ganhar novos caminhos nos próximos anos. Está rompendo a inércia do setor, que está com uma produtividade média de 3.000 quilos de soja por hectare há pelo menos dez anos.

Algumas variedades da Embrapa Soja resultaram em produtividade de até 6.400 quilos por hectare em lavouras de sementes na safra que se encerrou. Ou seja, 107 sacas por hectare, bem acima da média nacional de 50. Claro que ela não está só nessa luta pelo ganho de produtividade. Esse é o objetivo de todas as demais empresas que atuam no setor. E o país começa a ver produtividades antes não imaginadas. A ousadia da Embrapa é importante, no entanto, por ser uma empresa pública, que busca dar ao produtor –inclusive ao de pequeno porte– alternativas tecnológicas.

Vários foram os motivos que tiraram a liderança absoluta da Embrapa desse setor. Entre eles a Lei das Cultivares, em 1997, e a liberação dos transgênicos, em 2005. Com direitos assegurados sobre o ressarcimento econômico sobre as novas tecnologias produzidas, as multinacionais passaram a investir pesado nesse setor. Já a ação da estatal é limitada pelos parcos recursos do governo, pela falta de agilidade na liberação de verbas e pelos entraves de uma empresa pública. Outro ponto forte das concorrentes nesse mercado de soja são as negociações. Em geral, vêm acompanhadas de pacotes de outros produtos.

A produção de soja passou, nos últimos anos, por um redesenho no Brasil. A oleaginosa não ganhou produtividade média, mas também não perdeu com o desenvolvimento de novas variedades chamadas precoces. Essas variedades encurtaram o ciclo da planta em 30 dias e permitiram uma segunda safra no país. Em geral, a produção de soja vem seguida da de milho. Feita essa transição para as variedades mais precoces, as novas variedades deverão vir com produtividade bem maiores do que as atuais, acreditam alguns produtores.

Dilvo Grolli, presidente da Cooperativa Coopavel (oeste do PR), diz que em cinco anos serão normais produtividades de 6.000 quilos por hectare. "A região [oeste do Paraná] responde muito bem às novas tecnologias que estão chegando", diz. Um exemplo é o resultado de uma comparação de rendimento de produtividade entre as diversas variedades de soja feitas anualmente pela Coopavel. A variedade líder, pertencente à Embrapa, atingiu 5.817 quilos por hectare. A empresa ficou também com a segunda posição, com produtividade de 5.216 quilos, superando as concorrentes nacionais e estrangeiras.

BANCO GENÉTICO

Apesar dessa perda de mercado, Grolli diz que "a Embrapa não parou no tempo e volta a competir, principalmente devido ao seu banco genético". O banco de germoplasma da empresa –uma coleção de sementes– tem 35 mil tipos de soja do mundo todo. Henrique Menarim, produtor em Ventania (PR), também destaca o elevado potencial produtivo de algumas variedades da empresa pública. O produtor obteve 6.400 quilos por hectare com uma das variedades mais recentes da empresa. Menarim destaca, ainda, os avanços da Embrapa nas variedades convencionais e RR, praticamente esquecidas por várias empresas.

A produtividade da soja convencional supera 5.000 quilos em Tibagi (PR), segundo ele, enquanto a RR significa menos custos para o produtor, uma vez que expirou o tempo de pagamento de royalties por essa tecnologia. Apenas a melhoria das variedades, no entanto, não vai ser a salvação das lavouras, advertem Grolli e Menarim. A alta rentabilidade, a rusticidade da planta e a resistência a doenças devem ser acompanhadas de um bom manejo do produtor. Rotação de cultura e cuidados com o solo são básicos para o bom desenvolvimento das plantas.

O produtor precisa perder a mania de só olhar para o retrovisor, diz Menarim. Só planta o que deu certo no ano anterior e descarta variedades que, às vezes afetadas pelo clima de um ano, dariam certo em períodos seguintes. Menarim diz que o produtor tem de fazer testes com todas as variedades e ver as que dão o melhor resultado. A troca de informações com o vizinhos, que têm o mesmo solo e o mesmo clima, também são vitais, acrescenta.

 

Fonte: Folha de São Paulo 

 

 

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