07
mai
2014
Ano da soja nos Estados Unidos

 

Com safra ampliada, Estados Unidos planejam despejar mais de 96 milhões de toneladas de soja no mercado internacional no segundo semestre

Cassiano Ribeiro e Luana Gomes

A safra 2014/15 começa no Hemisfério Norte com potencial de um novo recorde para a produção de soja. Os Estados Unidos, que nesta semana completam um mês de plantio, planejam despejar no mercado 96,39 milhões de toneladas da oleaginosa a partir de agosto – perto de 7 milhões de toneladas acima do registrado no ano passado.

A projeção, elaborada pelo Agronegócio Gazeta do Povo a partir de dados do Departamento de Agricultura do país, o Usda, considera uma área colhida de 32,56 milhões de hectares e produtividade média (2,96 mil quilos por hectare) na linha de tendência histórica. Esse volume será atingido se o plantio se confirmar e se não houver quebra climática.

Com uma colheita desse porte, os norte-americanos não devem ter dificuldades para atender o apetite dos importadores. Pelo contrário. Este é o ano em que deve começar a sobrar mais soja nos estoques do país depois da frustração de safra histórica de 2012/13. Com a oferta projetada, os estoques seriam suficientes para suprir o consumo durante 28 dias na entressafra, quase o dobro do período atual.

“Até agosto, o mercado deve permanecer em alta, porque os estoques americanos ainda são baixos e só devem ser recompostos a partir de outubro, com a entrada da colheita. Além disso, o país assumiu compromissos superiores à sua capacidade de fornecimento neste ano”, explica o analista de mercado Flávio França Júnior. A queda no valor da soja no segundo semestre já é realidade na Bolsa de Chicago. Os contratos com entrega programada para setembro ou novembro atualmente têm cotação quase US$ 2 por bushel abaixo dos papéis com vencimentos para maio e julho.

“Com as cotações da soja rebaixadas e o dólar de hoje, a conta fecha [com remuneração] igual à da temporada 2013/14 no Brasil. É interessante aproveitar os rallies de alta”, recomenda João Paulo Schaffer, analista e operador de mercado da Agrinvest.

Quanto ao consumo internacional, a perspectiva é que a curva continuará crescente, mas não a ponto de impedir uma recomposição das reservas do país norte-americano. Para o ciclo 2014/15, o Usda prevê aumento de 500 mil toneladas nas exportações de soja do país, para 43,5 milhões de toneladas.

Migração de área

O atraso observado na evolução do plantio de milho nas últimas semanas, que poderia render à soja mais alguns hectares nos Estados Unidos, não é considerado grave pelos especialistas. “Eles têm maquinário que permite avançar 20% da safra em uma semana com clima propício. Pode haver uma transferência de área na reta final, mas ainda há muito tempo pela frente”, afirma França Júnior.

“Se houver um atraso [exagerado] no plantio do milho, pode ser que a soja ganhe mais área, principalmente nos estados onde se cultiva doble crop [segunda da safra de soja, sobre o trigo de inverno]. Mas, se isso ocorrer de fato, será só entre julho e setembro”, acrescenta Schaffer.

Sobre o clima, não há ameaça para o desenvolvimento das lavouras norte-americanas, mas sim, para a hora de retirada dos grãos, aponta a Somar Meteorologia. “Neste ano, a possibilidade de veranicos como de anos anteriores é muito baixa. Porém, devido à volta do El Niño no segundo semestre, é grande a possibilidade de chover bastante na colheita, principalmente entre agosto e setembro”, afirma o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos.

Brasil avança na exportação de soja

Se na produção de soja os Estados Unidos voltam a abrir vantagem em relação ao Brasil, nas exportações a tendência é que a liderança continue sendo verde e amarela. Para este ano, as estimativas oficiais e privadas indicam que os embarques brasileiros podem chegar a 45 milhões de toneladas de soja. No primeiro quadrimestre, as vendas externas somaram 17,3 milhões de toneladas, 48% a mais do que no mesmo período de 2013.

E o aumento da participação do Brasil no mercado internacional é confirmado pelo próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). O órgão prevê que as exportações vão chegar a 50 milhões de toneladas em cinco anos e em 60 milhões de toneladas na próxima década. Os norte-americanos também crescem, mas devem ficar no segundo lugar do ranking.

Isso ocorre mesmo com uma previsão de que a área plantada com a oleaginosa cresça a passos contidos a partir deste ano. Mato Grosso, maior produtor nacional de grãos, confirma essa tendência. Até o momento, os produtores do estado adquiriram 80% dos fertilizantes e metade das sementes necessárias para o próximo ciclo, conforme o diretor da Federação da Agricultura do estado (Famato), Nelson Piccoli. “Se aumentarmos muito a área aqui, podemos sofrer queda de preço e ter prejuízo. É melhor aumentar cautelosamente e não em grande escala”, diz.

Para a temporada 2014/15, que começa oficialmente em setembro, a expectativa é que o aumento da área cultivada fique entre 300 mil e 400 mil hectares, contra mais de 400 mil registrados no ciclo 2013/14.

Estoques garantem quatro dias a mais de consumo

A redução no cultivo e na produção de milho nos Estados Unidos, resultado de preços baixos, não deve diminuir os estoques norte-americanos, conforme projeção do Agronegócio Gazeta do Povo. Com uma colheita estimada em 342,6 milhões de toneladas, considerando uma área colhida de 34,1 milhões de hectares e produtividade média de 10,4 mil quilos por hectare, o excedente previsto é de 37,2 milhões de toneladas, volume capaz de suprir a demanda por 40 dias. Já o estoque da safra passada era suficiente para 36 dias de consumo (33,8 milhões de toneladas).

No ano passado, os Estados Unidos retiraram das lavouras 353,7 milhões de toneladas. “A demanda interna, tanto para o etanol como para ração animal, e os embarques semanais estão bastante elevados”, explica João Paulo Schaffer, analista e operador de mercado da Agrinvest.

A reserva estimada é a maior dos últimos cinco anos. Em 2009/10, o excedente foi de 43,4 milhões de toneladas ou 48 dias de consumo. Os analistas consideram que os preços do milho no Brasil serão influenciados não somente pela confirmação do potencial da safra norte-americana no segundo semestre, mas principalmente pela evolução das exportações nacionais, que podem evitar desvalorizações expressivas.

5 milhões de toneladas de soja além do recorde de 2009/10 – que foi de 91,4 milhões de t – serão colhidas nos Estados Unidos se o país fizer bom plantio e não tiver quebra climática.


Fonte: Gazeta do Povo (AgroGP)

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