Comentários referentes ao período entre 07/12/2012 a 13/12/2012
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Emerson Juliano Lucca²
As cotações do trigo em Chicago igualmente cederam no final desta semana, fechando o dia 13/12 em US$ 7,93/bushel. Esse valor, que rompeu o piso dos US$ 8,00/bushel, não era visto desde o início de julho do corrente ano.
Além da tomada natural de lucros por parte da especulação em Chicago, o movimento indica os números vindos do relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado no dia 11/12. O mesmo corrigiu para cima não só a safra mundial de milho, mas igualmente a de trigo. No caso deste último cereal, os dados atuais são:
a) confirmação de uma colheita estadunidense de 61,7 milhões de toneladas neste ano;
b) elevação dos estoques finais do cereal nos EUA para 20,5 milhões de toneladas;
c) patamar de preços médios aos produtores locais entre US$ 7,70 e US$ 8,30/bushel para o ano comercial 2012/13;
d) safra mundial em 2012/13 chegando a 655,1 milhões de toneladas, o que supera em quase 4 milhões de toneladas o indicado anteriormente;
e) estoques finais mundiais em 176,95 milhões de toneladas;
f) produção da Argentina em 11,5 milhões de toneladas e a do Brasil já reduzida para 4,8 milhões;
g) importações brasileiras projetadas em 7,5 milhões de toneladas;
h) produções da Austrália e Canadá em crescimento, chegando respectivamente em 22 milhões e 27,2 milhões de toneladas no corrente ano 2012/13;
i) manutenção da produção da Ucrânia em 15,5 milhões de toneladas.
Dito isso, as vendas líquidas de trigo, por parte dos EUA, na semana encerrada em 29/11, atingiram a 353.100 toneladas, contra 279.300 toneladas da semana anterior.
Enquanto isso, no Mercosul, os preços continuam firmes, pois a demanda por trigo é forte e a oferta de produto de qualidade reduzida. Com o agravante de que os embarques do produto argentino paralisaram em função da falta de licença fitossanitária emitida pelas autoridades locais. Como a safra da Argentina foi menor, devido ao clima, tal quadro não favorece ao mercado comprador, pois os preços tendem a subir ainda mais. Nesse momento, em termos nominais, o Up River indica valores de US$ 347,00/tonelada, enquanto em Baia Blanca o produto estava indicado em US$ 352,00/tonelada, porém, sem disponibilidade do produto. No Uruguai, o trigo bateu em US$ 335,00/tonelada, enquanto no Paraguai a tonelada ficou em US$ 320,00 para compra no FOB. Já o trigo para exportação no Brasil se manteve ao redor de US$ 330,00/tonelada FOB. (cf. Safras & Mercado)
No mercado brasileiro, a Conab, em seu levantamento de dezembro, trouxe a estimativa de produção de trigo para os níveis que vínhamos alertando. A mesma agora teria sido de apenas 4,5 milhões de toneladas, o que nos parece bem factível com a realidade encontrada à campo. A produtividade média no país teria ficado em 2.362 quilos/hectare, com o Paraná colhendo 2,1 milhões de toneladas (15,5% a menos do que o ano anterior). Já o Rio Grande do Sul teria colhido 1,99 milhão de toneladas, com perdas superiores a 27% em relação ao ano anterior (esses dados sobre a safra gaúcha nos parecem especificamente ainda superestimados). Além
disso, no contexto, é preciso considerar a baixa qualidade de muito deste trigo colhido.
Nesse contexto, os preços do cereal continuam subindo no país. No norte do Paraná a compra está em R$ 780,00/tonelada, enquanto a venda bate em R$ 800,00/tonelada. A alta mensal já acumula 20% naquela região. Já no Rio Grande do Sul, igualmente para o trigo de qualidade superior, a tonelada gira entre R$ 660,00 e R$ 690,00. A média no balcão gaúcho fechou a semana em R$ 31,12/saco, enquanto nos lotes a média ficou
em R$ 665,00/tonelada. Já no Paraná a média atingiu valore entre R$ 732,00 e R$ 750,00/tonelada, com ganhos superiores a 8% na semana.
Enfim, a paridade de importação indica que o trigo argentino, ao câmbio de R$ 2,09,
chegaria CIF moinhos de São Paulo a R$ 853,00/tonelada, fato que permite que o trigo do norte do Paraná possa ser vendido a R$ 743,00/tonelada. Ou seja, pelos valores agora praticados naquela região, a tendência parece ser de que os preços tenham alcançado seu limite de alta, pois estaria começando a ficar mais barato importá-lo,
desde que nossos vizinhos tenham produto de qualidade a ofertar.
¹ Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
² Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.