As duas geadas da semana passada e a estiagem de maio provocaram estrago avaliado em R$ 1,2 bilhão no milho e no trigo no Paraná, conforme levantamento divulgado nesta quarta-feira (6) pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
Os dados não incluem as geadas desta semana e são preliminares (podem ter ajustes). Se consideradas todas as culturas, as perdas, concentradas nas regiões Oeste e Norte, podem passar de R$ 2 bilhões, avaliam técnicos e produtores.
O maior prejuízo foi verificado no milho. As cotações em alta estimularam aumento de 27% no plantio, que somou 1,7 milhão de hectares. Mas a previsão de colheita teve de ser reduzida de 8,12 milhões para 5,31 milhões de toneladas, com perda de 34,6% – sendo 8,4 pontos atribuídos à falta de chuva e 26,2 à geada. A diferença é de 2,81 milhões de toneladas ou 46,8 milhões de sacas, que poderiam render R$ 1,11 bilhão aos produtores.
O trigo paranaense, que teve área reduzida em 12% (para 1,02 milhão de hectares), renderia 2,86 milhões de toneladas, mas deve se limitar a 2,61 milhões. Houve quebra de 8,7%. São 2 pontos da seca e o restante das geadas. As 250 mil toneladas que deixarão de ser colhidas poderiam render R$ 111 milhões, estima o Deral.
Desde que a notícia da quebra provocada pelas geadas se espalhou, há uma semana, as cotações subiram 0,74% e 1,37%, respectivamente, no estado. O milho estava cotado ontem a R$ 23,94 (saca de 60 quilos), valor 83% superior ao de julho do ano passado, enquanto o trigo alcançava R$ 26,73, com alta de 20,25% em um ano.
“O principal problema foram as geadas dos dias 27 e 28 de junho. Nesta semana, as ocorrências têm sido mais fracas e, por enquanto, não temos relatos de perdas expressivas”, disse o economista do Deral Marcelo Garrido.
As geadas atingiram ainda pastagens, cafezais, hortas, pomares e mandiocais. Se chegarem a R$ 2 bilhões, vão representar um rombo de 4,5% sobre a renda total do setor, isso tomando como referência o Valor Bruto da Produção (VBP) de 2010 (R$ 44,1 bilhões), que foi recorde. Conforme a Seab, trata-se da maior perda desde 2000/01, quando o frio comprometeu mais da metade da produção de milho. A última quebra ocorreu em 2007/08 e foi de 15,1%.
O clima vinha favorecendo a produção desde o início da safra 2010/11. A quebra ocorre após um período de otimismo e bons resultados em relação à produção e aos preços, avaliou o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara. Ele acredita que a indústria da carne pode ter de importar milho neste ano.
Os produtores correm o risco de ficar sem milho para honrar as vendas antecipadas. Jurandir Alexandre Lamb, que tem 170 hectares plantados em Toledo (Sudoeste), estima que a produção vai render 25% do potencial de 6,5 t/ha, justamente a proporção que ele precisa para cumprir seus compromissos contratuais.
“Parte da safra foi vendida por contrato de opção (pelo qual o produtor opta por entregar o produto ou pagar uma espécie de multa) e outra parte com exigência de entrega. Preciso colher o que for possível para cumprir todas as vendas.” Lamb pondera que as perdas só serão conhecidas com exatidão em agosto. A seca atrasou o desenvolvimento do cereal, que ficou mais tempo frágil para a ocorrência de geadas. “É a natureza, não há o que fazer”, lamenta.
No trigo, ocorre o inverso: quanto mais adiantada a plantação, maior o prejuízo. Mesmo assim, nos Campos Gerais, onde a lavoura tem apenas entre 30 e 40 dias, as perdas se aproximam de 10%, afirma o triticultor Willem Bauwman, de Castro, que planta o cereal em 1 mil hectares. “Uma geada fraca seria até positiva para a formação de cachos. O problema é que a temperatura chegou a 4 graus negativos dia 28”, relata.
Fonte: Gazeta do Povo - Caminhos do Campo
Volte para a Listagem