02
abr
2013
Agricultura cresce alavancada
Uso de recursos do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) dobrou desde 2006/07, enquanto a produção e os custos aumentaram cerca de 40%
Igor Castanho
A produção agrícola brasileira cresce dependendo cada vez mais de financiamentos a juros controlados. O aporte de dinheiro destinado ao Plano Agrícola e Pecuário (PAP), o Plano Safra, saltou 114% desde 2006/07. No mesmo período, a produção e os custos aumentaram perto de 40%, conforme o banco de dados da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Ou seja, o setor está emprestando valor dobrado para ampliar a produção anual da casa de 130 milhões para a de 180 milhões de toneladas de grãos.
No Plano 2012/13, vigente desde julho do ano passado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anuncia R$ 133,2 bilhões a produtores e cooperativas. Seis safras antes, oferecia menos da metade do valor (R$ 62,3 bilhões). Oferta-se atualmente R$ 2,5 bilhões para cada milhão de hectares cultivados. Seis temporadas atrás, esse índice era de R$ 1,35 bilhão. Na época, foram efetivamente repassados R$ 57,1 bilhões. Em 2012/13, serão repassados R$ 115 bilhões se a taxa de 86% de execução do orçamento do PAP registrada no último ano se repetir.
Apesar do incremento, o agronegócio reclama que há barreiras impedindo o acesso ao crédito. A estimativa é que os recursos financiados representam cerca de metade do valor necessário para custear a produção no Paraná e perto de um terço em Mato Grosso, os dois maiores produtores de grãos do país. Os agricultores recorrem a instituições financeiras privadas e às tradings para complementação.
Um estudo do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que, em uma área média de 1 mil hectares de soja, os recursos do PAP podem financiar, no máximo, 45,5% do custo de produção. O limite de R$ 800 mil por produtor é insuficiente para cobrir todas as despesas, explica Elisa Gomes, analista do Imea.
“Quanto maior o produtor, menos do governo ele pega. O ideal é um aumento do limite, para que o recurso seja mais bem distribuído”, afirma. Hoje, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), 52% dos sojicultores plantam mais de 1 mil hectares no estado.
Como as áreas são menores no Paraná, torna-se possível financiar uma parcela maior dos custos do que no Centro-Oeste, afirma Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do estado, a Faep. “Além da estrutura fundiária, existe a questão de que aqui temos uma rede bancária ampla e as cooperativas, que também utilizam e repassam recursos. Isso nos diferencia”, explica.
Em sua avaliação, o bom momento dos preços incentiva os agricultores a correrem mais riscos nos financiamento. Em 2012 (jan-dez), o estado foi líder na captação do crédito rural, com 15% do total nacional (R$ 17,2 bilhões), conforme dados do Banco Central do Brasil.
Na avaliação de Loyola, o governo deve continuar ampliando o aporte de recursos para as próximas safras. “O custo da agricultura vem aumentando, na última safra subiu cerca de 15% e isso pesa sobre custeio e investimento.”
Ele compara com a postura adotada em outros países como os Estados Unidos, importante player na produção mundial. “Não existe na cabeça do produtor norte-americano um limite. Se há um bom projeto, com capacidade de pagamento, ele vai acessar o crédito rural sem qualquer barreira”, complementa. Na última semana o Paraná pleiteou ao Mapa um acréscimo de 30% no volume de recursos do Plano Safra.
Além de juros reduzidos, setor tenta evitar riscos
Os produtores buscam essencialmente juros reduzidos nos financiamentos do crédito rural. A taxa padrão caiu de 6,75% para 5,5% em 2012 e a promessa do governo federal é de nova redução. Tentam escapar dos riscos que os financiamentos de altos valores a juros de mercado representam. As operações fora do Plano Agrícola e Pecuario (PAP) são mais arriscadas, conforme Elisa Gomes, analista de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). “Como a taxa de juros é maior, o risco aumenta. Em uma quebra de safra, o endividamento pode ir além da capacidade de pagamento”, diz.
Para contornar o risco das dívidas, o setor pede ampliação dos valores destinados a subsidiar contratos de seguro rural, programa que também integra o PAP. “Há proteção para prejuízos na produção, mas o problema ainda é o risco de preço, que não tem muitas alternativas para o produtor”, salienta Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).
O PAP de 2013/14 ainda está em discussão. Na última semana, representantes do governo federal levantaram demandas do agronegócio em Curitiba. O setor fez pressão por redução na taxa de juros a 4% e ampliação do orçamento para R$ 175 bilhões – R$ 150 para a agropecuária empresarial e R$ 25 bilhões para a familiar.
Em uma das linhas do PAP, a do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), o pedido é pela inclusão de estruturas de armazenagem nos itens finaciáveis. O seguro rural precisa de R$ 700 milhões, reivindica o setor.
“O produtor está cada vez mais profissionalizado, correndo atrás de recursos para melhorar a produção”, afirma Ágide Meneguette, presidente da Faep.
Igor Castanho
A produção agrícola brasileira cresce dependendo cada vez mais de financiamentos a juros controlados. O aporte de dinheiro destinado ao Plano Agrícola e Pecuário (PAP), o Plano Safra, saltou 114% desde 2006/07. No mesmo período, a produção e os custos aumentaram perto de 40%, conforme o banco de dados da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Ou seja, o setor está emprestando valor dobrado para ampliar a produção anual da casa de 130 milhões para a de 180 milhões de toneladas de grãos.
No Plano 2012/13, vigente desde julho do ano passado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anuncia R$ 133,2 bilhões a produtores e cooperativas. Seis safras antes, oferecia menos da metade do valor (R$ 62,3 bilhões). Oferta-se atualmente R$ 2,5 bilhões para cada milhão de hectares cultivados. Seis temporadas atrás, esse índice era de R$ 1,35 bilhão. Na época, foram efetivamente repassados R$ 57,1 bilhões. Em 2012/13, serão repassados R$ 115 bilhões se a taxa de 86% de execução do orçamento do PAP registrada no último ano se repetir.
Apesar do incremento, o agronegócio reclama que há barreiras impedindo o acesso ao crédito. A estimativa é que os recursos financiados representam cerca de metade do valor necessário para custear a produção no Paraná e perto de um terço em Mato Grosso, os dois maiores produtores de grãos do país. Os agricultores recorrem a instituições financeiras privadas e às tradings para complementação.
Um estudo do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que, em uma área média de 1 mil hectares de soja, os recursos do PAP podem financiar, no máximo, 45,5% do custo de produção. O limite de R$ 800 mil por produtor é insuficiente para cobrir todas as despesas, explica Elisa Gomes, analista do Imea.
“Quanto maior o produtor, menos do governo ele pega. O ideal é um aumento do limite, para que o recurso seja mais bem distribuído”, afirma. Hoje, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), 52% dos sojicultores plantam mais de 1 mil hectares no estado.
Como as áreas são menores no Paraná, torna-se possível financiar uma parcela maior dos custos do que no Centro-Oeste, afirma Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do estado, a Faep. “Além da estrutura fundiária, existe a questão de que aqui temos uma rede bancária ampla e as cooperativas, que também utilizam e repassam recursos. Isso nos diferencia”, explica.
Em sua avaliação, o bom momento dos preços incentiva os agricultores a correrem mais riscos nos financiamento. Em 2012 (jan-dez), o estado foi líder na captação do crédito rural, com 15% do total nacional (R$ 17,2 bilhões), conforme dados do Banco Central do Brasil.
Na avaliação de Loyola, o governo deve continuar ampliando o aporte de recursos para as próximas safras. “O custo da agricultura vem aumentando, na última safra subiu cerca de 15% e isso pesa sobre custeio e investimento.”
Ele compara com a postura adotada em outros países como os Estados Unidos, importante player na produção mundial. “Não existe na cabeça do produtor norte-americano um limite. Se há um bom projeto, com capacidade de pagamento, ele vai acessar o crédito rural sem qualquer barreira”, complementa. Na última semana o Paraná pleiteou ao Mapa um acréscimo de 30% no volume de recursos do Plano Safra.
Além de juros reduzidos, setor tenta evitar riscos
Os produtores buscam essencialmente juros reduzidos nos financiamentos do crédito rural. A taxa padrão caiu de 6,75% para 5,5% em 2012 e a promessa do governo federal é de nova redução. Tentam escapar dos riscos que os financiamentos de altos valores a juros de mercado representam. As operações fora do Plano Agrícola e Pecuario (PAP) são mais arriscadas, conforme Elisa Gomes, analista de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). “Como a taxa de juros é maior, o risco aumenta. Em uma quebra de safra, o endividamento pode ir além da capacidade de pagamento”, diz.
Para contornar o risco das dívidas, o setor pede ampliação dos valores destinados a subsidiar contratos de seguro rural, programa que também integra o PAP. “Há proteção para prejuízos na produção, mas o problema ainda é o risco de preço, que não tem muitas alternativas para o produtor”, salienta Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).
O PAP de 2013/14 ainda está em discussão. Na última semana, representantes do governo federal levantaram demandas do agronegócio em Curitiba. O setor fez pressão por redução na taxa de juros a 4% e ampliação do orçamento para R$ 175 bilhões – R$ 150 para a agropecuária empresarial e R$ 25 bilhões para a familiar.
Em uma das linhas do PAP, a do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), o pedido é pela inclusão de estruturas de armazenagem nos itens finaciáveis. O seguro rural precisa de R$ 700 milhões, reivindica o setor.
“O produtor está cada vez mais profissionalizado, correndo atrás de recursos para melhorar a produção”, afirma Ágide Meneguette, presidente da Faep.
Fonte: Gazeta do Povo