11
abr
2012
'O agronegócio salvou o Brasil'
Jornalista e comentarista econômico, Carlos Alberto Sardenberg, atribuiu ao setor rural as reservas de dólares do País
''Digo sem medo de errar: o agronegócio salvou o Brasil.'' A declaração é do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, âncora da Rádio CBN e comentarista econômico do Jornal da Globo e da Globo News. Para ele, existe um certo preconceito em setores industriais com relação ao fato de o Brasil ser um grande exportador de commodities. ''Muita gente acha que é fácil produzir já que temos bom solo e água. Mas não sabe o grau de tecnologia embutido hoje na produção de alimentos'', ressaltou.
O jornalista - que esteve em Londrina na segunda-feira a convite do Sicredi para uma palestra após o lançamento do prêmio Ocepar de Jornalismo, na 52 ExpoLondrina - lembrou que, até o início da década passada, o Brasil tinha baixa capacidade de gerar dólares. ''Toda vez que havia uma crise, o País era afetado porque não tinha dólares, mas devia em dólares.'' Foi o agronegócio que, segundo ele, trouxe a moeda americana para dentro o País.
Ele destacou que a dívida pública brasileira era de US$ 138,6 bilhões em 2003 e passou a US$ 76,7 bilhões em 2011. No mesmo período, as reservas de dólares saltaram de US$ 15,9 bilhões para US$ 352,1 bilhões.
Sardenberg também lembrou da estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de que a população mundial, hoje de 6 bilhões de habitantes, deve chegar a 9 bilhões em 2050. E que o organismo da própria ONU que trata da Agricultura e Alimentação, a FAO, prevê a necessidade de aumento de 60% na produção de alimentos até lá. ''E o Brasil é apontado como o País capaz de oferecer 50% desta nova demanda'', ressaltou.
De acordo com o jornalista, países como os Estados Unidos não têm muito mais a oferecer em termos de produtividade agrícola porque já empregam a mais alta tecnologia. ''O governo brasileiro deveria ter isso como um foco. Deveria ter uma política estratégica para sustentar a produção agrícola'', disse. E lamentou que a Embrapa, que foi ''fator crucial'' para o agronegócio brasileiro, esteja ''sendo deixada de lado'' pelo governo.
Erros e acertos
O jornalista também discorreu sobre medidas positivas tomadas pelos governos nos últimos anos. Citou as privatizações, o aumento de crédito para carros e casas, o câmbio flutuante e os programas sociais. Mas disse que o País capitula com taxas de crescimento muito baixas. ''Na média, o Brasil vem crescendo a 4,2% nos últimos anos enquanto a média dos demais emergentes - sem a China - é de 6,5%'', ressaltou.
E disse que o Brasil tem se destacado mais que outros emergentes no cenário internacional porque, ''em economia, tamanho é documento''. ''Somos o 6º maior PIB, o 8º em consumo de petrólero, o 3º no mercado de computadores, o 5º na telefonia e o 4º do mundo em carros'', detalhou.
No entanto, o País não cresce num ritmo compatível com seu gigantismo por falta de investimentos. Ele ressaltou que a carga tributária vinha na faixa de 24% até 92, com inflação galopante. A partir do Plano Real, ela começou a subir chegando a 37%. ''Enquanto a carga tributária sobe, os investimentos em infraestrutura caem'', mostrou. O Brasil, continuou, gasta muito com Previdência e com o custeio da máquina, enquanto a infraestrutura se deteriora. ''Gastamos 12% do PIB em aposentadoria, tendo 6% da população aposentada. A Alemanha gasta 11% do PIB, tendo 20% de aposentados'', comparou.
De acordo com Sardenberg, enquanto os demais emergentes investem cerca de 28% do PIB em infraestrutura, O Brasil só destina 18% para esta áreas. Por isso, na opinião do jornalista, não há saída que não seja novas privatizações. ''O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) previa R$ 5 bilhões para os aeroportos das cidades da Copa. Depois que o governo decidiu privatizar, só um aeroporto (Guarulhos) vai receber R$ 13 bilhões'', disse.
Nelson Bortolin
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''Digo sem medo de errar: o agronegócio salvou o Brasil.'' A declaração é do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, âncora da Rádio CBN e comentarista econômico do Jornal da Globo e da Globo News. Para ele, existe um certo preconceito em setores industriais com relação ao fato de o Brasil ser um grande exportador de commodities. ''Muita gente acha que é fácil produzir já que temos bom solo e água. Mas não sabe o grau de tecnologia embutido hoje na produção de alimentos'', ressaltou.
O jornalista - que esteve em Londrina na segunda-feira a convite do Sicredi para uma palestra após o lançamento do prêmio Ocepar de Jornalismo, na 52 ExpoLondrina - lembrou que, até o início da década passada, o Brasil tinha baixa capacidade de gerar dólares. ''Toda vez que havia uma crise, o País era afetado porque não tinha dólares, mas devia em dólares.'' Foi o agronegócio que, segundo ele, trouxe a moeda americana para dentro o País.
Ele destacou que a dívida pública brasileira era de US$ 138,6 bilhões em 2003 e passou a US$ 76,7 bilhões em 2011. No mesmo período, as reservas de dólares saltaram de US$ 15,9 bilhões para US$ 352,1 bilhões.
Sardenberg também lembrou da estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de que a população mundial, hoje de 6 bilhões de habitantes, deve chegar a 9 bilhões em 2050. E que o organismo da própria ONU que trata da Agricultura e Alimentação, a FAO, prevê a necessidade de aumento de 60% na produção de alimentos até lá. ''E o Brasil é apontado como o País capaz de oferecer 50% desta nova demanda'', ressaltou.
De acordo com o jornalista, países como os Estados Unidos não têm muito mais a oferecer em termos de produtividade agrícola porque já empregam a mais alta tecnologia. ''O governo brasileiro deveria ter isso como um foco. Deveria ter uma política estratégica para sustentar a produção agrícola'', disse. E lamentou que a Embrapa, que foi ''fator crucial'' para o agronegócio brasileiro, esteja ''sendo deixada de lado'' pelo governo.
Erros e acertos
O jornalista também discorreu sobre medidas positivas tomadas pelos governos nos últimos anos. Citou as privatizações, o aumento de crédito para carros e casas, o câmbio flutuante e os programas sociais. Mas disse que o País capitula com taxas de crescimento muito baixas. ''Na média, o Brasil vem crescendo a 4,2% nos últimos anos enquanto a média dos demais emergentes - sem a China - é de 6,5%'', ressaltou.
E disse que o Brasil tem se destacado mais que outros emergentes no cenário internacional porque, ''em economia, tamanho é documento''. ''Somos o 6º maior PIB, o 8º em consumo de petrólero, o 3º no mercado de computadores, o 5º na telefonia e o 4º do mundo em carros'', detalhou.
No entanto, o País não cresce num ritmo compatível com seu gigantismo por falta de investimentos. Ele ressaltou que a carga tributária vinha na faixa de 24% até 92, com inflação galopante. A partir do Plano Real, ela começou a subir chegando a 37%. ''Enquanto a carga tributária sobe, os investimentos em infraestrutura caem'', mostrou. O Brasil, continuou, gasta muito com Previdência e com o custeio da máquina, enquanto a infraestrutura se deteriora. ''Gastamos 12% do PIB em aposentadoria, tendo 6% da população aposentada. A Alemanha gasta 11% do PIB, tendo 20% de aposentados'', comparou.
De acordo com Sardenberg, enquanto os demais emergentes investem cerca de 28% do PIB em infraestrutura, O Brasil só destina 18% para esta áreas. Por isso, na opinião do jornalista, não há saída que não seja novas privatizações. ''O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) previa R$ 5 bilhões para os aeroportos das cidades da Copa. Depois que o governo decidiu privatizar, só um aeroporto (Guarulhos) vai receber R$ 13 bilhões'', disse.
Nelson Bortolin